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PRELIMINAR

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No ESTÁGIO PRELIMINAR atuamos com uma técnica de estabelecer contato com o corpo, através de uma suave auto-massagem (gharṣhaṇa) que também induzirá a uma circulação da linfa, do sangue e energia vital (prāa), com uma consequente purificação do organismo físico. A fricção, o amassamento e a compressão dos músculos, associados à manipulação dos pontos de pressão (marman) fortalece o sistema nervoso, endócrino e imunológico.

Em seguida, algumas práticas (kriyās) para ativar a energia da coluna vertebral e dos órgãos da cavidade abdominal, bem como a limpeza das fossas nasais são muito importantes para que o Yogin possa desenvolver uma boa prática respiratória, melhorando sua capacidade cognitiva. Desta forma, poderá aproveitar integralmente os ensinamentos propostos neste estágio preliminar.

No ESTÁGIO PRELIMINAR trabalhamos com algumas técnicas respiratórias de circulação energética como: prāa kriyā, bhastrikā, kapālabhātī e nāḍī śhodhana com bhastrikā. Em todas as práticas respiratórias, salvo algumas exceções, o praticante deve estar sentado em posição de lótus ou meio-lótus (sukhāsana, siddhāsana, padmāsana), fazendo āna mudrā (o gesto do conhecimento, unindo as pontas de polegar com indicador, com os demais dedos estendidos em ambas as mãos e apoiadas sobre as pernas). Apesar de bhastrikā e kapālabhātī serem atividades respiratórias, elas são, de fato, atividades de limpeza e fazem parte de um grupo de práticas chamadas de ha kriyās, que são atividades de limpeza (ha = seis; kriyā = atividade), tanto do corpo físico como do sutil.

Nas práticas respiratórias de bhastrikā, kapālabhātī e nāḍī śhodhana com bhastrikā, ao final de cada série, o yogin deve inalar profundamente e reter o ar. Durante essa retenção, é importantíssimo aplicar jālandhara bandha e mūla bandha para encaminhar a energia vital a subir pelo canal sutil que passa por dentro da medula espinhal. A técnica de jālandhara bandha consiste em flexionar a cabeça a frente até que o queixo pressione o alto do tórax, de modo que, enquanto abaixa a cabeça, o queixo seja puxado para trás. Na técnica de mūla bandha produz-se uma intensa contração dos esfíncteres anais, além de toda a estrutura muscular do períneo, de modo a retrair toda essa região para dentro da ampola retal. Essas duas contrações (garganta e períneo) devem ser mantidas durante todo o tempo de retenção do ar nos pulmões, que é feita ao final de cada série de bhastrikā, kapālabhātī e nāḍī śhodhana com bhastrikā.

O prāa kriyā é uma prática respiratória bem introdutória (prāa = energia vital; kriyā = atividade) e serve como preparação para a ativação da energia vital. Para executá-la deve-se estar bem concentrado na dinâmica respiratória, na seguinte forma: inale profunda e plenamente, expandindo primeiro a parte baixa dos pulmões (abdômen) e depois a parte alta (tórax); em seguida e sem retenção do ar, exale todo o ar, primeiro recolhendo o abdômen e, depois, o tórax. Ao inalar, imagine que você está absorvendo a energia vital, prāa, revitalizando seu corpo e mente. Quando exalar, visualize o ar saindo cheio de impurezas (toxinas e tensões), purificando seu corpo e mente.

Bhastrikā, que significa fole ou pequena bolsa, é a segunda prática respiratória que promove limpeza e circulação da energia vital pelos condutos sutis. Para executá-la, imagine um fole que se expande e se recolhe, de modo acelerado. Faça o mesmo com seu abdômen, expandindo-o e recolhendo-o em movimentos vigorosos, amplos e acelerados, através de uma respiração bem diafragmática. O ritmo deve ser tão acelerado, amplo e vigoroso quanto possível, desde que não se perca a coordenação, mantendo a relação de proporcionalidade inalação/exalação de 1:1.

O outro exercício respiratório, que produz uma profunda limpeza nos canais sutis dos centros energéticos da cabeça (os chakras menores do eixo ājñā-sahasrāra), chama-se kapālabhātī, que significa "crânio brilhante" (kapāla = crânio; bhāti = brilho, luz, esplendor). Essa prática consiste em uma inalação lenta e profunda seguida de uma exalação rápida e forte, através de uma brusca e vigorosa retração do abdômen, expulsando o ar, as toxinas e tensões de uma só vez. Quando feito corretamente, ou seja, na proporção inalação/exalação de 4:1 e por um número razoável de repetições, que varia de 12 a 108, gera um calor na cabeça, ativa os ḍīs superiores e limpa os centros psíquicos dessa região, gerando um halo de luz espiritual em torno da cabeça. Mas, lembre-se: a prudência sempre em primeiro plano; comece com uma série de pouca repetição e vá gradualmente aumentando.

Enfim, a última série respiratória. Nāḍī śhodhana significa "purificando os canais sutis" (nāḍī = canais sutis; śhodhana = limpando, purificando, refinando). Essa é a respiração que costumo chamar de "pente fino". Ela produz um refinamento dos canais, tornando-os mais sutis ainda. Trata-se de uma respiração alternada, ou seja, ora exala e inala por uma narina, ora pela outra, fazendo a troca de narina sempre quando os pulmões estão cheios. Comece tapando a narina direita, preferencialmente, com o polegar da mão direita, mas você pode usar a outra mão se for canhoto, por exemplo. Nesse caso, use os dois últimos dedos dessa mão (anular e mínimo) para tapar a narina direita. Exale o ar pela esquerda e retorne inalando pela mesma narina. Agora, troque de narina, tapando a esquerda e liberando a direita. Use o polegar ou anular/mínimo, de acordo com a mão que usa. Proceda da mesma forma: exale e inale pela narina direita e novamente troque as narinas, completando um ciclo.

Agora que você já sabe a dinâmica dessa respiração, vamos incrementá-la com bhastrikā, conforme instrui o programa do ESTÁGIO PRELIMINAR. Comece a acelerar a alternância das narinas, tornando a respiração não tão profunda, para que se mantenha um ritmo acelerado. Desta forma, você estará executando nāḍī śhodhana com bhastrikā.

Tendo completado a prática respiratória o Yogin deve sentar-se confortavelmente e assimilar upadeśha (os ensinamentos). Pelo fato do PROJETO YOGIN ser um caminho espiritual, o praticante deve seguir uma linha de conduta, que o guiará em seu desenvolvimento espiritual. São condutas e procedimentos que propiciarão melhores condições de um desenvolvimento adequado.
 

Em nossa jornada, a cada nova existência no plano físico ou não, ampliamos nossa consciência. Quando despertamos para a essência espiritual, grandes obstáculos e processos de dependência emergem à nossa consciência, pois são frutos de nossas ações, condicionados às nossas tendências viciosas (vāsana) e identificados com o mundo material (māyā). Começa, então, um grande processo alquímico interno de transformação, sublimação, transmutação e purificação. Este é o início do equilíbrio e da união entre os aspectos superiores e inferiores da Alma, que ao afinal é alcançado entre vida interior e vida exterior.

As lições estão organizadas em 13 módulos. Cada módulo corresponde a 1 semana e deve ser estudado e aplicado ao final de todas as práticas que o Yogin fizer durante este período (mínimo de 3 práticas na semana). 

 

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MÓDULO 1 -- 1ª semana

O Yogin deve conhecer os obstáculos que comumente impedem ou dificultam a reta conduta, a fim de removê-los.  São nove condições normalmente encontradas nas várias existências da Alma e que podem constituir um obstáculo para aquelas que ainda não entenderam o real sentido de tais condições – amadurecer a Alma pela conscientização de seus sentimentos bloqueados (mágoas, ressentimentos, tristezas, desamores, etc.) e atitudes mentais sabotadoras (vícios, preconceitos e crenças limitadoras).

 

“Doença, desânimo, dúvida, falta de atenção, preguiça, preocupações mundanas, ilusão, progresso incompleto, instabilidade, estes nove causam a distração da mente e são os obstáculos”. (Patañjali, Yoga-Sūtra, I, 30)

 

A atitude mental voltada para o exterior e constituindo obstáculo à reta conduta se traduz por “distrações”.  As distrações (vikṣhepa) são aquelas condições que desviam o praticante do caminho, trazendo a sua atenção de volta aos objetos do mundo exterior.  Esses obstáculos são:

  • Doença (vyādhi):  traz dor e mal-estar; a preocupação com a dor.  A mente se volta ao corpo físico, tornando-se difícil mantê-la voltada ao seu centro espiritual. Mas, para o praticante atento, a doença tem novo significado.  Ela sinaliza onde e o que devemos mudar.  Ela nos traz de volta ao caminho se mantemos o foco no centro espiritual.  Para a Alma comum, a doença tem uma dimensão dolorosa, sofrida, limitadora como um castigo (e é um erro pensar assim).  Mas, para a Alma Iniciada, a doença ganha nova perspectiva e vem mostrar uma necessidade interna que não se consegue manifestar, vem reconduzir o Iniciado ao seu caminho, como também, vem desmanchar velhas crenças e abrir novos horizontes.  Para o Iniciado a doença é uma benção do Universo – ele a aceita com humildade e dignidade.

  • Desânimo (styāna):  é causado pela falta de força e energia, carência de vitalidade.  No estado de prostração ou desânimo, sem vontade ou objetivo que direcione a Alma, a consciência permanece dispersa, prevalece o devaneio, o sono desperto.  A Alma comum, por não entender e muito menos aceitar o Propósito Divino, consome toda sua energia em qualquer experiência que entre em desacordo com sua pequena vontade estreita e limitada, levando-a ao desânimo.  Mas, a Alma Iniciada se revigora a cada obstáculo que depara, entendendo que eles são colocados a sua frente por ação divina e, portanto, necessário ao seu crescimento.  Sua fé é inabalável e seu entusiasmo é automaticamente renovável por entregar todas as suas ações ao Universo.

  • Dúvida (saṁśaya):  impede a nossa entrega confiante ao Mestre Interno.  A dúvida sobre a validade de certas técnicas faz aparecer o desânimo.  Ficamos oscilando entre os extremos e criamos a indecisão.  Quem duvida não age e não pratica.  É preciso que se escolha e se assuma as decisões tomadas, responsabilizando-se pelas consequências.  Nesta vida não existem erros e acertos, mas apenas lições.  A Alma poderá gostar dessas lições ou considerá-las desprezíveis, mas a cada dia ela terá a oportunidade de aprendê-las.  Através da experimentação, num processo de tentativas e erros ou acertos, a Alma humana amadurece e cresce.  As experiências que não deram certo, assim como as bem-sucedidas, fazem parte do processo de aprendizado.  A alma será colocada diante de cada lição, de diversas maneiras, para que exercite seu livre-arbítrio e dissolva a dúvida, até que a tenha aprendido.  Quando isto ocorrer, poderá passar para a próxima.  Sendo assim, o aprendizado nunca termina.  Não existe parte da vida que não contenha lições sobre o livre-arbítrio e o exercício da entrega e confiança no Poder Superior.  Se você está vivo, então existem sempre estas lições para aprender.

  • Falta de atenção (pramāda):  também chamada de indiferença e negligência.  Enfraquece a mente e atrapalha a reta conduta.  Diante de várias alternativas, escolhe-se qualquer uma.  No caminho iniciático isto se torna um perigo, pois certas decisões, quando mal aplicadas, podem causar sérios distúrbios.  Alerta-se aqui que o desapego e o equilíbrio na atitude não devem ser confundidos com a indiferença.  A indiferença é fruto do desamor, de um coração duro e estéril, que leva a Alma a se fechar ora na tristeza ora no orgulho e ressentimento.  A Alma Iniciada, no entanto, deve ser dotada de desapego e equilíbrio na atitude, fundamentada no amor divino, com o coração aberto e entregue aos desígnios do Universo e, sendo assim, sem enaltecer os apelos gerados pela dualidade da mente, mantendo-se no caminho do meio – o caminho do guerreiro da paz.

  • Preguiça (ālasya):  causada na atualidade, principalmente, pelo conforto da vida moderna e a tendência a evitar esforços.  Impede o progresso da Alma, levando-a ao estado de torpor mental que, por sua vez, poderá se transformar em doença.  Na vida moderna, cercada de aparelhos eletro-eletrônicos, computadores, celulares, etc., a Alma comum se dispõe desses aparelhos como passatempo, para se divertir e descansar, alimentando a preguiça, a alienação e a letargia mental, enquanto a Alma Iniciada usufrui desses aparelhos não só para interagir com o mundo, mas para ganhar tempo e se dedicar mais ao seu caminho iniciático.

  • Preocupações mundanas (avirati):  alimentam as angústias, as ansiedades e as ambições, fazendo com que a Alma não deixe de desejar as coisas do mundo material, sentindo-se apegada a elas, valorizando-as além do necessário e mantendo-se aprisionada às suas tendências mundanas, contraditórias ao caminho iniciático.  A Alma Iniciada entrega não só os seus desejos mundanos, mas também os espirituais, à Ordem Cósmica, Àquele que Tudo Sabe, e espera pacientemente por aquilo que lhe pertence.  Enquanto isso, ela trabalha incansavelmente.

  • Ilusões (bhrāntidarśhana):  gerada pela falta de discernimento, a Alma humana tem a percepção errada da realidade, criando fantasias que se enraízam profundamente na Alma, congelando-se num sistema de crenças de difícil dissolução, principalmente se houver orgulho e vaidade em não aceitar as transformações impostas pela Vontade Superior.  O Iniciado, por estar de coração aberto, livre de preconceitos, confia no Plano Divino, evitando, assim, a formação de fantasias e de outros produtos próprios do condicionamento mental.

  • Progresso incompleto (alabdhabhūmikatva):  causado pela ansiedade de progredir no caminho, onde sai atropelando as diferentes fases a serem alcançadas.  O caminho espiritual é uma verdadeira corrida de obstáculos e estes devem ser transpostos integralmente, um a um.  O progresso incompleto seduz e corrompe a Alma que tenta se enveredar no caminho espiritual porque ainda alimenta suas ilusões e sistemas de crença que a deixa impregnada pelas preocupações mundanas, a preguiça e a falta de atenção.  A Alma Iniciada deve estar em constante vigilância e análise para que não recaia neste tipo de aprisionamento.  Para aquela que luta por se desidentificar dos aspectos inferiores de sua personalidade, a fórmula é “orai e vigiai” conforme nos ensinou nosso Divino Mestre Jesus, o Cristo.  Orai para que estejas sempre em contato com a Eterna Fonte de Luz Divina e alinhado ao Propósito Divino.  Vigiai para que tenhas a possibilidade de discernir os falsos propósitos, de descondicionar a mente de todo lixo que nos foi transmitido e largar as nossas tendências inferiores e, desta forma, irradiar a Luz Divina para toda a Humanidade e realizar o Plano Cósmico do Céu na Terra.

  • Instabilidade (anavasthitatva):  ocorre quando a Alma atinge um determinado estágio e de repente regride, mesmo sem interromper suas práticas espirituais.  Isto acontece porque a Alma não progrediu corretamente, e não atingiu o grau de maturação necessário em cada fase.  Normalmente, neste caso, a Alma comum se desanima, se desespera ou se angustia e cria um sentimento de desilusão e, muitas vezes, abandona a prática espiritual, dando-lhe descredito.  Já a Alma Iniciada não desiste e entende que tudo isto faz parte do processo iniciático, aprendendo com a instabilidade e a impermanência da vida.  Ela aceita a ocorrência com resignação e humildade, tomando para si a responsabilidade e o desafio de transpor mais um obstáculo.  Seu alinhamento com o Propósito Divino está fortalecido o suficiente para compreender que tudo acontece por determinação do próprio Universo – não há uma folha que caia da árvore sem a permissão divina.

 

“Na repetição de Oṁ é preciso haver reflexão em meio à repetição.  É o que capacita a consciência a voltar-se para dentro, resultando na eliminação de todos os obstáculos”. (Patañjali, Yoga-Sūtra, I, 28 e 29)

 

Nāchiketa disse: ‘Dize-me, Ó Morte!  O que é outro [que não esteja contido em] certo e errado, causa e efeito, passado e futuro?’

Yama disse: ‘É Oṁ, exposto pelos Vedas, o propósito das austeridades e a meta da pureza.  Oṁ é de fato Brahman.  É o mais elevado.  Aquele que conhece esta palavra pode obter tudo que deseja.  Oṁ é o fundamento.  Aquele que encontra esse fundamento é digno da companhia dos santos’.” (Kaṭha-Upaniṣhad, I, ii, 14-17)

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MÓDULO 2 -- 2ª semana

A causa primária de todos os fatores que impedem a autorrealização é a ilusão acerca da natureza da existência.  A Alma humana aceita como verdade o mundo externo que não passa de transitório, impermanente ou ilusório (māyā) e desconhece a própria consciência, que está enraizada na Consciência Universal.  Essa causa primária é chamada de ignorância ou avidyā.

 

A ignorância é a origem do egotismo ou superestima do “eu”, das atrações e repulsões em relação a objetos e exagerado desejo de viver, arrastando a Alma, sem descanso, ao movimento da atividade psicológica mundana.

Esses fatores podem existir em estado latente, atenuado, alternativo ou em plena expansão.  Os quatro estados representam graus progressivos de manifestação, desde a mais tênue até a mais violenta dessas forças naturais, inerentes à existência.  Na Alma comum aparecem em maior ou menor expansão, apresentando-se essa ou aquela paixão com maior ou menor violência, alternando-se à manifestação dos opostos.

 

Os outros fatores de aprisionamento (kleśhas) são:

  • Sentimento de individualidade ou egotismo (asmitā):  é o aspecto da ignorância que supervaloriza o que não é o Eu.  Causa a identificação do Eu com os instrumentos de conhecimento, dos quais o intelecto é o primeiro.  Daí surgem os sistemas de crença: “sou eu que penso”, “sou eu que vejo”, “eu sou este corpo”.  Essa identificação gera o egotismo, ou seja, a enfatuação diante do sucesso (“eu sou poderoso”, “eu sou inteligente”, “eu triunfei”) e o abatimento diante do insucesso (“eu fracassei”, “eu sou doente”, “eu sou culpado”).

  • Atração (rāga):  aspecto da ignorância que consiste em identificar-se com as experiências de prazer, formando-se como resultado da memória dos objetos que proporcionaram impressões agradáveis.  Desta forma, a atração torna-se um condicionamento mental que nos escraviza e nos limita, impedindo que tenhamos uma vida equilibrada, nutridora e educativa, em harmonia com a nossa natureza essencial, a Divina Presença EU SOU.

  • Aversão (dveṣha):  aspecto da ignorância que consiste em vivenciar estados de dor e desconforto, registrando-se na memória como experiências penosas.  Provoca um desejo de opor-se, de resistir, de afastar-se ou de vingar-se.  Da mesma forma que a atração, a aversão também se torna um condicionamento mental capaz de nos paralisar em nosso processo de evolução, gerando elementos nocivos como o ódio ou o medo, que vão, aos poucos, nos contaminando e nos consumindo.

  • Apego à existência (abhiniveśha):  esta ansiedade está presente nos insetos desde o primeiro instante do nascimento e é comum às Almas humanas mais inteligentes.  O sábio, o louco e o animal têm as mesmas impressões latentes do caráter doloroso da morte.  O fato de agarrar-se à vida é ignorância, porque implica a crença da permanência das coisas transitórias.  Sua outra faceta – o medo da aniquilação – é também ignorância, porque a Alma é na realidade imortal.

 

Esses quatro fatores produzem as “tendências”, que são os traços deixados na “matéria” psíquica pelos atos e experiências.  Enquanto permanecerem reunidos, eles serão incessantemente produtivos.  Eles não podem ser anulados por um simples conhecimento teórico.  Para dissolvê-los é necessário um esforço firme, reto e vigoroso, guiado por um método de reta conduta.

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MÓDULO 3 -- 3ª semana

Para dominar não só os obstáculos que surgem no caminho espiritual, mas também os fatores que produzem as tendências viciosas, o método consiste em desenvolver a capacidade de discriminação, o desapego e o exercício assíduo (esforço contínuo).

 

A discriminação ou discernimento é a capacidade de identificar objetos e fatos como reais ou irreais, através do poder cognitivo.

Distinguem-se três níveis de realidade: de aparência, empírica e absoluta.  A realidade de aparência se desvanece assim que a ilusão se dissipa.  A realidade empírica está submetida a uma mudança perpétua, pois o que é absolutamente real deve ser invariável e indestrutível a todo e qualquer momento e circunstância.  Portanto, esses dois níveis de realidade, ilusória e empírica, não podem ser “realmente” reais.  São aparentemente reais ou reais apenas no momento presente.  Somente o que é idêntico em todas as condições e através de todos os estados de consciência, é absolutamente real.  Só a Realidade Absoluta é eterna e real; todas as demais coisas, os fenômenos tanto subjetivos como objetivos, são momentos, impermanentes e transitórios.  Estar consciente dessa distinção é a discriminação.

 

“Aquela aquisição, felicidade e conhecimento do qual não existe superior, conheça esse como Brahman, o Absoluto”.

(Śhaṅkarāchārya, Ātmabodha, 54)

 

O discernimento é o meio de se alcançar o desapego.  Somente pelo discernimento é que o desejo pode ser definitivamente vencido.  Discernimento e desapego podem ser considerados como os dois aspectos do mesmo processo de dissipação da ilusão.  Pelo discernimento cada vez maior, sabe-se se está realmente desapegando ou se reprimindo e afastando-se das coisas e fatos, para não estabelecer um confronto.

 

Como nos ensina Śhrī Sathya Sai Baba:

“Os sentidos devem ser controlados com rigor através do discernimento e do desapego, as aptidões gêmeas outorgadas exclusivamente ao homem.  O discernimento lhes ensina como escolher suas ocupações e companhias; mostra-lhes a importância relativa dos assuntos e dos ideais.  O desapego libera-os das prisões e servidões, e salva-os tanto da desesperança quanto do regozijo”.

 

O desapego é o desinteresse por todos os prazeres que podem ser obtidos nesta vida ou após a morte.  Em qualquer nível que a Alma Iniciada esteja ou em qualquer estado, plano ou condição, considera-se sua natureza impermanente.  Tudo é visto de uma forma imparcial e impessoal, tais como são em realidade.  Isto, não quer dizer que devemos parar de agir nem de termos desejos, mas de agirmos com soltura, alegria, espontaneidade e, acima de tudo, sem a tensão gerada pela cobrança de resultados esperados.  O desapego supremo é uma absoluta clarificação do conhecimento, no qual não subsiste a menor impressão de um sentimento de privação ou de carência.  É a liberação de todos os laços que nos submetem à existência no saṁsāra, ou seja, ciclo dos renascimentos.

 

Essa liberação foi poderosamente evocada pelo canto de triunfo de Buddha após sua iluminação:

“Inumeráveis são as moradas da vida que me retiveram acorrentado, procurando incansavelmente aquele que elabora as prisões dos sentidos, tramas de decepção.  Penosa e longa foi minha luta.  Mas agora, já sei quem és, tu, arquiteto deste tabernáculo!  Nunca mais reerguerás esses muros de dor.  Não construirás mais teus abrigos de mentira, nem acrescentarás mais novos tijolos ao edifício!  Destruída está tua casa, rompida a estrutura, feita de ilusão!  Eu o supero, e livre finalmente, obtenho a liberação!”

 

O exercício assíduo ou esforço contínuo é o último aspecto essencial da prática da reta conduta, que implica energia, entusiasmo e perseverança.  Só se torna firmemente estabelecido quando se prossegue com constância e com ardor durante um tempo suficientemente longo.  No estudo da Alma, toda fraqueza mental vem da incapacidade de reter intenções apropriadas fortemente fixadas na Divina Presença “EU SOU”.  Todos os conselhos e todas as diretivas dos livros sagrados e filosóficos são inúteis, por mais convincentes que sejam, enquanto a Alma humana for incapaz de segui-las, devido à sua fraqueza mental.  Somente o esforço prolongado, regular, contínuo e fervoroso aos exercícios de reta conduta permite desenvolver a força mental necessária à liberação dos ciclos da reencarnação.

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MÓDULO 4 -- 4ª semana

Podemos passar agora aos ensinamentos dos Yamas. Refere-se ao domínio dos impulsos inferiores inerentes a todos os seres vivos.  Os princípios do autocontrole formam a base do dharma, não sendo particularidade de nenhuma escola filosófica.  O autocontrole é o aniquilamento de determinadas características de comportamento que se constituem em barreiras no caminho espiritual.  Os princípios de autocontrole estão organizados em cinco aspectos:

1. Ahiṁsā, que significa “não violência” de ações, palavras e pensamentos.  É o ponto máximo da ética hindu e, por isso, é considerado o principal aspecto de autocontrole, servindo os demais para consolidá-lo.  Mahātma Gandhi definiu “não violência” como humildade, no sentido de não produzir sofrimento a ninguém, nem a nada que tenha vida e nem a si mesmo, pois, em última análise, o sofrimento que causamos aos outros é o sofrimento que causamos a nós mesmos.

 

“Estando firmemente estabelecido na não-violência, deixa de existir hostilidade ou ressentimento ao seu redor”.

(Patañjali, Yoga-Sūtra, II, 35)

 

Para a Alma Iniciada, toda ação, palavra ou pensamento, não importa se bom ou mal, tem um único destino: a si mesmo.  Por outro lado, a prática de ahiṁsā requer a constante observação sobre os pensamentos, pois eles representam a estrutura interna de nossos atos futuros.  A principal fonte de violência está em nossos pensamentos.  Nossa mente é capaz de produzir maravilhas e catástrofes.  Através de nossos pensamentos, formulamos a nossa linguagem que, por sua vez, é expressa em palavras.  Da mesma forma, nossas palavras condicionam nossas atitudes e podemos agir de forma harmônica ou desarmônica.

 

A violência verbal se manifesta por meio de injúrias, insultos, palavras rudes e maledicência.  Para combatê-las precisamos desenvolver hábitos de falar com doçura, gentilmente e com sabedoria.

 

Fundamentado na violência mental e verbal está a violência física.  Podemos desarmá-la observando nossas tendências de cortar, machucar, ferir ou mesmo mutilar nosso corpo ou de qualquer outra criatura da natureza.

 

Usufruindo dos ensinamentos de Paramahaṁsa Yogānanda, podemos acrescentar dois pensamentos dele:

1. “Mude seus pensamentos, se desejar mudar as circunstâncias da sua vida.  Uma vez que é o único responsável por seus pensamentos, somente você poderá mudá-los.  Você vai querer fazê-lo, quando compreender que cada pensamento cria as coisas de acordo com sua própria natureza.  Lembre-se de que essa lei atua sempre, e que o que você exibe está sempre de acordo com a espécie de pensamentos que tem habitualmente.  Portanto, comece agora a ter apenas os pensamentos que lhe trarão saúde e felicidade”.

2. “O homem espiritualizado vence a ira com a calma, extingue querelas com o silêncio, dispersa a desarmonia com palavras suaves e envergonha a descortesia mostrando consideração para com os outros”.

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MÓDULO 5 -- 5ª semana

2. Satya, que significa “ser verdadeiro”.  O Yogin, sempre e em qualquer circunstância, deve ser autêntico em sua atitude, palavra e pensamento, tanto para com os outros como para consigo mesmo.  Como nos fala Śhrī Sathya Sai Baba:

“Se você disser a verdade, diga-a clara e docemente. Nunca diga a verdade de maneira pouco clara e também não diga inverdades da maneira que lhe agrada.  Verdade não significa simplesmente abster-se de mentir.  Tome a verdade como sua essência verdadeira, como o alicerce de sua vida.  Você deve estar preparado para renunciar a todas as coisas em favor da verdade.  A verdade é o alento vital da palavra”.

 

“Estando firmemente estabelecido na veracidade, a própria ação é sua recompensa”.  (Patañjali, Yoga-Sūtra, II, 36)

 

Como nos demais yamas, a verdade que está no nível mental é a mais importante.  Se a verdade não está na mente, ou melhor, no intelecto, não é possível compreender o que significa esta palavra e, portanto, falar e agir com veracidade se torna impossível.  Isto acontece quando a nossa mente está condicionada à inércia e à paixão, deixando nossos processos mentais discriminatórios entorpecidos.  Através de um intenso e profundo questionamento, praticamos a verdade e geramos um estado de paz de espírito e uma mente pacífica, que por sua vez produzem a paz real e que sobrepuja a verdade verbal e de atitudes.

No nível verbal, a verdade se confunde com a honestidade.  Aqui, ela se manifesta quando cumprimos as promessas que fizemos anteriormente a outrem.  Quando não cumprimos nossas promessas, nos tornamos levianos, manipuladores e caímos no descrédito.  Portanto, o melhor a fazermos será “conter a língua” e ficar calado.

 

Ao nível físico, a verdade de ações é aquela que está em consonância com a verdade intelectual e verbal.  O Yogin deve ser coerente em suas atitudes, de acordo com o que prega e, principalmente, com o que pensa.  Não importa em que nível de consciência nós estejamos a verdade se confundirá com a coerência.

 

Para que este princípio seja praticado em toda a sua plenitude e beleza, o praticante deve manter a inocência, a espontaneidade e a ausência de malícia.

 

“Bem-aventurados os que são puros de coração, porque verão a pureza de Deus”.  (Jesus, Sermão da Montanha, Mateus, V, 8)

 

“Não há virtude mais excelente que a veracidade nem pecado maior que a mentira.  Portanto, o homem virtuoso deve buscar refúgio na veracidade com todo o seu coração”.  (Mahānirvāṇa-Tantra, IV, 75)

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MÓDULO 6 -- 6ª semana

3. Asteya, que significa “não se apropriar ilegalmente” daquilo que não te pertence.  Este preceito se estende desde objetos materiais até os níveis mais sutis como, por exemplo, a aceitação indevida de agradecimentos e honrarias por ações que não lhe diz respeito, pois foi feita por outrem, ou a usurpação de idéias alheias, ou ainda, a "vampirização" da energia dos outros.  Através deste preceito, mantém-se a própria dignidade. Aquele que assim se estabelece tudo recebe de todas as partes e por inúmeros meios.  A elite dos seres é atraída em sua direção.

 

“Estando firmemente estabelecido na honestidade, sente-se como possuidor de toda a riqueza do mundo”.

(Patañjali, Yoga-Sūtra, II, 37)

 

O nível mental deste aspecto de autocontrole é um dos mais difíceis, pois requer não pensar nem desejar algo que tenha sido adquirido por outra pessoa.  A Alma Iniciada deve ser capaz de trabalhar dignamente para obter o que deseja.

No nível verbal, a prática de asteya significa não roubar a dignidade, o valor, a felicidade e os momentos de glória do outro; ou seja, não devemos assumir a posição ou o status de outra pessoa.  Cada um tem o seu valor e a sua função.

No nível físico, não podemos nos apropriar de objetos quer seja por engano ou pela força, ou ainda, em segredo e sem permissão.  A isto, chamamos de roubo material, quando nos apropriamos de um material que não é nosso e que não ganhamos.  Se quisermos alguma coisa, devemos entender que temos que pagar o preço por alguma forma.  Isto produz uma estabilidade mental que, por sua vez, nos leva a um equilíbrio energético. Do ponto de vista espiritual, o equilíbrio energético e a estabilidade da mente são extremamente importantes.  Tudo na vida está acessível e tem seu valor, como a fruta de uma árvore, mas a Alma Iniciada tem que estar acima disso, tem que se tornar muito mais do que aquele que recolhe e acumula bens materiais.

 

Este preceito nos ensina a amar o próximo e nos coloca no caminho da doação e do desprendimento, fazendo-nos entender a frase de São Francisco de Assis “é dando que se recebe”.  É por falta de amor que sentimos necessidade de tirar do próximo aquilo que lhe pertence, seja um objeto, uma pessoa ou um status.  Neste caso, podemos seguir os ensinamentos de Paramahaṁsa Yogānanda:

“Todos os dias, faça alguma coisa em benefício dos outros, mesmo que seja algo insignificante.  Se você quer amar a Deus, é preciso amar as pessoas.  Elas são filhas Dele.  Você pode ser prestativo no plano material – dando aos que precisam – e no plano mental – dando conforto aos sofredores, coragem aos temerosos, amizade divina e apoio moral aos fracos.  Você também semeia bondade, quando desperta nos outros o interesse por Deus e quando cultiva neles um maior amor a Deus, uma fé mais profunda Nele. Quando deixar este mundo, as riquezas materiais ficarão para trás; mas todas as suas boas ações o acompanharão.  Pessoas ricas que vivem na avareza e pessoas egoístas que nunca ajudam os outros não atraem riqueza em sua próxima vida. No entanto, os que distribuem e compartilham, quer tenham muito, quer tenham pouco, atrairão a prosperidade.  Essa é a lei de Deus”.

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MÓDULO 7 -- 7ª semana

4. Brahmacharya, que significa “aquele que se consagrou ao ascetismo e ao estudo”.  Confere o perfeito domínio sobre as sensações que causam prazer, quer sejam sexuais, gustativas ou de um dos sentidos.

“Estando firmemente estabelecido na vida casta, com domínio sobre as sensações que causam prazer, o vigor é adquirido”.

(Patañjali, Yoga-Sūtra, II, 38)

 

O principal objetivo do brahmacharya é absorver e preservar o prāṇa que se manifesta através de todos os órgãos vitais.  A autodisciplina de nossos prazeres sexuais é uma das principais chaves de sucesso para controlar a circulação energética e desenvolver os canais dos sentidos supra-físicos, bem como os poderes da vontade, do intelecto, do amor, da palavra, da cura e da transmutação.  Nada mais avassalador para fragmentar a força vital do que um ardente desejo sexual incontrolável.  Como neutralizador desses desejos e para preservar o equilíbrio e a força vital, o praticante deverá meditar, comer, dormir, orar, comungar com Deus e, até mesmo, fazer sexo ou qualquer outra ação com amor e bondade no coração, sem apego nem aversão e com calor espiritual.  A Alma Iniciada deve renunciar ao desejo e excitação provocada pela ação, e não à ação em si.  Renunciar não quer dizer deixar de querer e de agir, mas tornar-se equânime.

 

É a renúncia ao desejo de querer voltar a experimentar as sensações de prazer, registradas na memória e que são motivos para nos manter com vícios e hábitos, que condicionam a mente e produzem ansiedade e descontrole psicológicos.  Paramahaṁsa Yogānanda nos ensina:

“Sempre que houver um desejo avassalador em seu coração... use o seu discernimento”.

E Śhrī Sathya Sai Baba completa:

“Os desejos conduzem à ruína final.  Nunca podem ser destruídos mesmo quando atendidos.  Crescem a cada satisfação, e se tornam monstros que devoram suas vítimas; assim, tentem reduzir seus desejos, continuem reduzindo-os”.

 

A prática de brahmacharya verbal implica no controle da palavra quanto à utilização de expressões com conotação de desejos ardentes.  Palavras obscenas, comentários maledicentes e canções levianas devem ser totalmente evitados.  Contudo, vivemos numa sociedade de homens e mulheres que se relacionam constantemente, brincam entre si e falam de sexualidade de forma descontraída e engraçada, e não devemos inibir nossa capacidade de rir de algo que seja verdadeiramente cômico a esse respeito.  O riso está mais próximo da espiritualidade do que a sobriedade.  O Yogin Iniciado deve estabelecer o equilíbrio em tudo e buscar uma atitude de equanimidade.

 

No nível físico, este preceito é conquistado com facilidade quando o desenvolvemos nos níveis anteriores (mental e verbal).  Devemos usar com sabedoria e bom senso os sentidos de nosso corpo sem malbaratá-los e torná-los promíscuo.  No que tange a energia sexual, esta é de grande poder e deve ser usada de forma espiritual.

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MÓDULO 8 -- 8ª semana

5. Aparigraha, que significa “ausência de cobiça”.  Este preceito refere-se à ânsia de possuir bens materiais ou méritos espirituais tais como o Céu ou o Nirvāṇa, bem como algum estágio mais nobre no caminho espiritual.  Este aspecto educa o Yogin para que não tenha medo de perder o que foi adquirido.  Desta forma, ganhamos tranqüilidade, segurança e paz interior, necessárias ao desenvolvimento espiritual.  Conforme diz Śhrī Sathya Sai Baba:

“Renuncie, e alcance a paz.  Apegue-se, e seja enlaçado por problemas.  Apesar de toda sua riqueza, hoje, o homem é infeliz.  Vive permanentemente arruinado pela falta de paz... Cada um pede: ‘Eu quero paz’.  Eu é ego.  Quero é desejo.  Elimine o ego e o desejo.  Restará a paz.  Ego e desejo envolvem e enclausuram a paz.  Removido o envoltório-prisão, a paz, por si mesma, se manifestará”.

 

Aparigraha é a chave para controlar a energia vital, pois os efeitos da ganância são altamente destrutivos e sugadores da vitalidade, desviando-nos da espiritualidade.  Quando eliminamos a cobiça mental, verbal e material os outros quatro preceitos (não-violência, verdade, não roubar e educação dos desejos) se tornam quase que naturais de praticá-los.  Ao abolirmos a cobiça, reduzimos significativamente a necessidade de sermos violentos, falsos, usurpadores e insaciáveis.

No nível mental, consegue-se desenvolver aparigraha através da reflexão, do discernimento e meditação.  A cobiça nos leva a desenvolver a inveja e a agitação mental; portanto, nada melhor do que mergulharmos em nosso oceano de luz, que é Deus, através da reflexão e meditação, para nos desidentificarmos de nossos condicionamentos e preconceitos que nos incitam idéias enganosas e sem fundamento.

 

A prática de aparigraha verbal consiste em não fazer comentários sedutores, sensacionalistas, que causem intrigas ou qualquer tipo de estímulo da ganância em si ou nos outros.  Em um nível mais sutil, isto significa que o Yogin Iniciada não deve estimular conversas superficiais e inúteis.  A prática do silêncio meditativo torna-se bastante favorável para aqueles que encontram fortes dificuldades em exercitá-lo.

 

Já a prática no nível físico requer o reconhecimento de nossas reais necessidades, ou seja, aquilo que é vital para nossa sobrevivência e aprendizado sem, contudo, ir além dessas necessidades.  Se assim não o fizermos, poderemos nos tornar infelizes e, consequentemente, incapazes de discernir entre o que é um desejo caprichoso e o que é realmente necessário para nossa evolução.

Aqui, também cabe a questão de que o Yogin, apesar de prestar serviço, reverência e devoção (sevā) a todos os seres, não deve se apegar nem à família nem aos amigos ou outras pessoas amadas.  Neutralizar o ciúme e a inveja, quando vemos a prosperidade tocar alguém (família, amigos ou vizinhos), é obrigação de todos que entram no caminho iniciático.  Devemos nos alegrar ao ver o sucesso das outras pessoas, pois para o Ser desperto o outro é uma extensão de si mesmo.

 

“Estabelecendo a ausência de possessividade, surge a compreensão do significado da existência”.

(Patañjali, Yoga-Sūtra, II, 39)

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MÓDULO 9 -- 9ª semana

Tendo exposto o conhecimento sobre os Yamas, passamos aos Niyamas (compromissos, acordos ou votos feitos internamente, que nos nos inclinam a desenvolver virtudes). São cinco votos que o Yogin deve desenvolver.  Essas virtudes são práticas ativas que complementam os princípios de autocontrole.

Enquanto os princípios de autocontrole são de forma negativa, como um refreamento, e versam principalmente sobre a harmonização das relações sociais e com o mundo dos seres vivos em geral, esses cinco votos são de forma positiva e construtiva, como um incentivo, e visam à organização da vida interior e pessoal.  Impor limites ao comportamento exterior não é suficiente e é preciso reestruturar a personalidade profundamente por meio das virtudes, que devem ser praticadas regularmente, dia após dia.  São elas:

1. Śhaucha que significa “pureza”.  Deve ser cultivada desde o nível mais grosseiro, que se refere ao corpo físico, até um nível mais sutil, que se refere ao corpo mental.  A pureza física está relacionada com a higiene corporal, com uma dieta adequada ao seu tipo de organismo, de preferência vegetariana.  Quanto ao nível mais sutil, deve-se cultivar a pureza de emoções, sentimentos e pensamentos.

O corpo físico é purificado através da água, tanto interno como externamente.  O corpo mental se purifica pela prática da verdade, pois esta deixa a mente tranquila e com atenção plena.  O corpo espiritual se torna purificado quando nos dedicamos integralmente à prática espiritual e ao conhecimento dos textos sagrados.

 

Aquele que deseja ter uma reta conduta não deve apenas restringir-se à limpeza corporal externa, mas proceder à purificação interna de seus órgãos pela regulação correta de seu modo de vida.  Assim como a força, a clareza e a sutileza do pensamento que dependem em grande parte da qualidade do corpo, a Alma Iniciada precisa de um harmonioso e puro instrumento corpóreo que seja, simultaneamente, sensível e forte.  A purificação interior se desenvolve pela eliminação dos pensamentos e sentimentos indesejáveis, substituindo-os por pensamentos e sentimentos nobres e sutis.

 

Quando mantemos o foco de nossa atenção na intenção de elevar nossos pensamentos e sentimentos a um nível refinado de consciência, de modo a ativar as energias mais sutis do chakra do coração, desenvolvemos śhaucha no nível mental.  Em geral, as pessoas alcançam o estágio do chakra umbilical, onde a noção de ego ainda está muito arraigada.  O Yogin deve manter pensamentos nobres, através do hábito de se recitar mentalmente o nome de Deus ou um de seus atributos como: felicidade, amizade, compaixão, amor a todos os seres, etc.

 

Quando nos expressamos sem rodeios e de forma gentil e harmoniosa, desenvolvemos a pureza verbal, através da purificação do chakra da garganta.  Para isso, a Alma Iniciada deve praticar o canto em voz alta e bem distinta de canções de elevado padrão vibratório, bem como praticar prāṇāyāma (controle e expansão da energia vital através de técnicas respiratórias).

 

No nível físico, śhaucha envolve tanto a parte externa do corpo quanto a interna.  Para a parte externa, a limpeza do corpo com água e sabão é mais do que óbvia.  Além disso, o Yogin deve praticar exercícios físicos como posturas (āsanas) e gestos (mudrās) do yoga que ajudam a adquirir vitalidade.  Cultivar, colher, preparar com amor e comer nosso próprio alimento também deve ser uma prática daquele que recebeu a Iniciação, pois teremos a certeza de que esse alimento tem boa energia.  Quanto à parte interna, a melhor forma de nos purificarmos é através do jejum ou da prática de śhāṅkha prakṣhālana (uma forma de limpeza do trato gastro-intestinal por ingestão de água com baixa concentração de sal).  Existem ainda outras atividades de limpeza próprias do yoga como: limpeza das fossas nasais (netī), do trato gastro-intestinal superior, médio e inferior (dhautī, naulī e vastī), dos olhos (trāṭaka) e do sistema nervoso (kapālabhātī).

“Pureza física indica desidentificação para com as reivindicações do ego e um retiro, de tempos em tempos, para a reclusão ou solidão.  Da purificação da mente surge disposição, focalização, controle dos sentidos e clareza de percepção”.

(Patañjali, Yoga-Sūtra, 40 e 41)

“Diz-se que a mente é dúplice: pura ou impura.  É impura devido ao contato com os desejos; é pura quando liberta dos desejos.  Quando o homem liberta a mente da preguiça e do desmazelo, torna-a imóvel e chega então ao estado onde não há mente, é esse o estado supremo.  A mente deve ser contida no interior até a hora em que venha dissolver-se.  Essa é a gnose e a salvação; tudo o mais não passa de conhecimento livresco.  Aquele cuja mente se tornou pura pela concentração e entrou no Si Mesmo sente uma alegria que não se pode descrever com palavras e que só é inteligível ao instrumento interior (a psique)”.

(Maitrāyaṇīya-Upaniṣhad, VI, 34)

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MÓDULO 10 -- 10ª semana

2. Saṁtoṣha que significa “contentamento”.  É adquirido através do cultivo de bons pensamentos e sentimentos.  Estes envolvem o Yogin em profunda paz (śhānti) e tranqüilidade que, por sua vez, o levam à serena aceitação de seu karma.  A Alma Iniciada sempre extrai uma plenitude de alegria daquilo que ela tem e daquilo que ela é, sem que nenhuma prova externa nem qualquer dificuldade interna possa lhe tirar a serenidade.  Ela deve apreciar aquilo que tem, encontrar o bastante mesmo no pouco que possui.  Pelo contentamento, o praticante cria dentro de si uma chama de beatitude que irradia e influencia tudo que a rodeia.

Quando trabalhamos internamente no sentido da desidentificação daquilo que precisamos e de não nos preocupar com algo que não temos ou que perdemos, então estamos praticando saṁtoṣha ao nível mental.  O Ser desperto não deve dar vazão a pensamentos queixosos de seu destino, nem das atitudes das pessoas com que convive, e muito menos de Deus, se o que ganha e o que tem é pouco para suprir as suas necessidades.  Ele deve meditar e procurar compreender a lei da abundância e do karma e se esforçar para ganhar o que realmente é necessário para sua família, seus empregados e suas práticas espirituais.

O Yogin deve sempre lembrar que o contentamento é a base da felicidade; a felicidade é a base da paz mental; a paz mental é a base para se adquirir energia; e adquirir energia é a base da iluminação.

No nível verbal, devem-se evitar conversas superficiais e discussões inúteis que incitam palavras amargas, insultos e elevações da voz, pois são contrárias à prática do contentamento.  A Alma Iniciada adquire contentamento verbal controlando e renunciando ao discurso agressivo e forte, falando pouco, evitando controvérsias e praticando longos períodos de silêncio espiritual (mouna).  Saṁtoṣha verbal é imprescindível para se alcançar saṁtoṣha mental.

 

Conquistamos contentamento no nível físico, quando deixamos de reagir impetuosamente, quer seja em relação a fatos desagradáveis ou não.  A Alma Iniciada deve desenvolver movimentos corporais harmoniosos, suaves e de expressão construtiva, sem dar importância aos insultos e injúrias de situações passadas.

 

“Uma alegria incomparável resulta do contentamento”.

(Patañjali, Yoga-Sūtra, II, 42)

 

“Quando alguém permanece calmo e sereno no meio de sofrimento, quando não espera receber do mundo objetivo permanente felicidade e quando é livre de apego, medo e ódio – então é ele um homem de perfeita sabedoria”.

(Bhagavad Gītā, II, 56)

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MÓDULO 11 -- 11ª semana

3. Tapas que significa “austeridade”.  Esta virtude é indispensável à disciplina e à purificação.  Através da austeridade a Alma Iniciada consome suas impurezas físicas, emocionais e mentais pela ação do fogo interior que as queima e transmuta.  Por esta prática, o Yogin desenvolve a força de vontade, o poder mental, a coragem, a moral, a dignidade, enfim, um caráter construtivo e saudável.  A força de vontade, que se expressa por esforço de continuidade, tem como pré-requisitos a paciência e a perseverança.  O praticante deve estar pronto para suportar todas as dificuldades que irá encontrar, aceitar o esforço sobre si e até mesmo o sacrifício que implica a exigência de permanecer imóvel ou de guardar silêncio, aplicando-se a todas as disciplinas necessárias.

Se quer se tornar um Ser desperto, deve ser capaz de suportar a fome, a sede, o calor e o frio, além de outras dificuldades, se forem necessárias.  Isto é válido para todos os níveis de tapas (mental, verbal e físico), possibilitando a manifestação de capacidades extra-sensoriais.

 

“Através da remoção das impurezas chega-se à austeridade, onde o corpo e os órgãos dos sentidos adquirem grande sensibilidade”.

(Patañjali, Yoga-Sūtra, II, 43)

 

“O culto as Divindades, a reverência aos Mestres e Sábios, além da pureza, a retidão, a continência e a não-violência – a isto se constitui a austeridade do corpo.  As palavras que não perturbam, que são verdadeiras, agradáveis e benéficas, bem como a prática do estudo das Escrituras – a isto se conhece como as austeridades da palavra (fala).  Serenidade mental, bondade, silêncio, autocontrole e purificação dos estados interiores – a isto se chama de austeridade da mente.  Quando essas três austeridades são praticadas com fé suprema por homens íntegros e que não anseiam pelo fruto de suas obras, é qualificada como da natureza de sattva (equilibrada).  Quando feita com ostentação ou para assegurar a cordialidade, a reverência e a veneração alheias, é qualificada como da natureza de rajas (agitada ou inconstante).  Se for feita por forças de concepções que tenham o objetivo de torturar a si mesmo, ou que tenha a finalidade de maltratar outra pessoa, é qualificada como da natureza de tamas (inerte ou mórbida)”.

(Bhagavad Gītā, XVII, 14-19)

 

A Bhagavad Gītā diz que a austeridade mental consiste na quietude, equanimidade e silêncio mental, bem como controlar nossas tendências viciosas, desarmônicas e contrárias (apegos e aversões) como, ora “eu amo isto” e ora “eu odeio isto”.  Este controle nos conduz a uma dissolução do apego e da arrogância do ego.  Quando estes aspectos se dissipam, a mente permanece pacífica, centrada e equilibrada, o que, por sua vez, ajuda a manter os órgãos dos sentidos sob controle.  Feito esse controle, a Alma Iniciada será capaz de mergulhar no inconsciente e vigiar seus pensamentos e emoções a fim de equilibrar a energia dos chakras e despertar os poderes psíquicos (siddhis) correspondentes a cada centro de energia.

 

Sobre a austeridade verbal, podemos afirmar que o voto de silêncio é uma ferramenta bastante importante quando se tem necessidade de se controlar a palavra maledicente, agressiva e impensada.

 

Ao nível corporal, o Yogin deve compreender e equilibrar suas atitudes internas e pessoais com as externas e sociais.  Isto quer dizer que deve buscar o equilíbrio entre as duas correntes energéticas opostas: a solar (piṅgalā) e a lunar (iḍā).  Desta forma, permitirá que a energia penetre no canal central (suṣhumṇā) e ecluda no topo da cabeça, manifestando a realização suprema.

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MÓDULO 12 -- 12ª semana

4. Svādhyāya que significa “entrar em si mesmo”, também é chamada de auto-educação, sua prática requer a permanente e profunda investigação interior a respeito de sua natureza, origem e finalidade.  É a busca do conhecimento da lei que rege intimamente a sua evolução, lei esta que está ligada ao grau evolutivo em que se encontra.  Para isso é necessário um contínuo e aprimorado estudo das questões divinas e sagradas como, por exemplo, as Escrituras Sagradas.  A parte mais importante desta virtude é o estabelecimento de comunicação entre o eu inferior (a personalidade) e o Eu Superior (a individualidade), possibilitando a Alma Iniciada receber o conhecimento diretamente da fonte interna, unindo-se a ela.

 

É através da auto-análise meditativa que a Alma Iniciada estabelece a comunicação com a sua Divina Presença.  Desta forma, ela descortina o seu vasto mundo interior e passa a compreender as sutilezas de sua mente.  Mas, para isso, é importante se fundamentar nos textos sagrados e em ensinamentos que a leve à questionamentos de sua trajetória de vida.

 

O canto de mantras e canções espirituais, como também a recitação em voz audível de textos sagrados e orações, consiste na prática verbal de svādhyāya.  Esta prática movimenta a energia sutil, propiciando a concentração em si mesmo.

 

Quanto à prática da auto-análise no nível físico, podemos afirmar que consiste em conhecer suas capacidades corporais, como, por exemplo, o desenvolvimento e controle dos órgãos dos sentidos e do aparelho motor para as diferentes atividades corporais.  Portanto, o nível físico é a base para todo o trabalho de svādhyāya mental e verbal.  Quando você pensa, fala ou escreve, é o seu corpo físico que o sustenta.

 

“Através do mergulho em si mesmo ou auto-análise, descobrimos a tendência de nossas aspirações mais elevadas”.

(Patañjali, Yoga-Sūtra, II, 44)

 

“Integrado em Deus, vive ele vida divina e percebe o espírito de Deus em todas as criaturas, porque sabe que todas as coisas têm em Deus o seu íntimo ser”.

(Bhagavad Gītā, IV, 29)

 

“O estudo e a interpretação das Escrituras Sagradas são uma fonte de alegria para o estudante dedicado.  Ele integra sua mente e torna-se independente dos outros; dia a dia vai ganhando poder espiritual.  Dorme tranqüilo e é o seu próprio médico.  Controla os sentidos e maravilha-se no Um.  Crescem-lhe a intuição e a glória interior, e ele adquire a capacidade de fazer o bem ao mundo”.

(Śhata-Patha-Brāhmaṇa, XI, 5, 7, 1)

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MÓDULO 13 -- 13ª semana

5. Ῑśvara-praṇidhāna que significa “entrega à Deus”.  Esta virtude é a principal para aqueles que, com tendências emocionais, escolhem o caminho da devoção para se realizarem no Senhor.  Sua prática nos leva a consagrar à Deus todos os nossos atos, palavras e pensamentos, quer sejam de caráter religioso ou profano.  Como nos ensina Śhrī Sathya Sai Baba:

“Entregar-se a Deus significa deixar tudo à Sua Vontade.  É a forma mais elevada de Amor Divino.  O Amor Divino e a entrega a Deus (o fruto final) incutirão grande coragem para enfrentar qualquer emergência; essa coragem é a Coragem Divina.  O Puro Amor Divino é o estágio em que se chega onde à única coisa que importa é o serviço ao Senhor, e tal serviço é sua própria recompensa”.

 

Manter a atenção em Deus é absolutamente necessário em nossa vida espiritual para almejar o desapego e, consequentemente, impregnar todos os recantos de nossa Alma com sua Luz Infinita.

Consagrar todas as nossas experiências ao Poder Divino nos desenvolve a confiança em Deus, nossa capacidade de ter fé, além de expandir e lapidar o amor.  Esta prática nos alinha, sintoniza e intensifica nosso canal com o Propósito Divino.  Nosso amor pelo próximo se torna maduro e consciente, transformando-se em compaixão.  Nosso querido Śhrī Sathya Sai Baba nos aponta o caminho:

“O amor e a fé são os dois remos com os quais se pode conduzir o barco pelo agitado mar da vida”.

 

“A total auto-entrega a Deus permite-nos chegar ao estado de perfeita comunhão”.

(Patañjali, Yoga-Sūtra, II, 45)

 

“A eliminação dos desejos não significa parar com o cumprimento de nossos deveres espirituais e profanos, mas consagrá-los a Deus”.

(Nārada, Bhakti-Sūtra, 8)

 

“Mas, quem de coração puro se voltar a Mim e fizer em Meu espírito tudo quanto faz; quem renunciar a si mesmo e, dia e noite, firmando em Mim, Me servir – esse será salvo por Mim do tempestuoso mar da existência desse inconstante mundo do nascer e do morrer, porque buscou refúgio em Mim”.

(Bhagavad Gītā, XII, 6 e 7)

Gharṣhaṇa e Kriyās

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Vamos agora para a técnica das séries de Gharṣhaṇa e Kriyās:

GHARṢHAṆA

O objetivo dessa massagem é vitalizar o coração, os vasos sanguíneos e linfáticos, e mobilizar a função dos órgãos abdominais.  Esta prática de massagear o corpo força o sangue, suavemente, para o coração e abdômen, despertando a energia desses dois centros produtores de vitalidade.  O ato de fazer pressão e relaxar como indicado na técnica ensinada abaixo, deve ser feito de tal forma que as palmas e os dedos não percam o contato com o corpo, enquanto afrouxa a pressão das mãos, ou seja, deslisando as mãos sobre a pele levemente. Esta massagem deve ser lenta, gentil e prazerosa. A atenção deve estar plenamente voltada para o ato de massagear, observando os pontos ou regiões de tensão, retesados e doloridos.

Figura 1. Sente-se em cadeira ou no chão em posição de lótus ou meio-lótus. Pressione o alto da cabeça (couro cabeludo) com a palma e os dedos de ambas as mãos e, gradualmente, comece a pressionar e soltar, movendo a pressão das mãos para a testa, os olhos, narinas, boca, queixo e, contornando-o, vá até as orelhas, massageando-as bastante (aperta, puxa, torce e dobra). Desça pelo pescoço, massageando a região da tireoide, e  avance até o centro do tórax. Volte para o alto da cabeça. Pressione como no anterior e vá, agora, descendo em direção à nuca, parte de trás do pescoço, depois os ombros e, descendo pelo peito, alcance novamente o centro do tórax.

Figura 2. Continue sentado. Segure as pontas dos dedos da mão direita entre a palma e os dedos da mão esquerda de maneira que a palma da mão esquerda esteja voltada para o dorso da mão direita.  Gradualmente, mova a pressão por todo o dorso da mão direita, punho e, depois, ao longo do dorso do antebraço, do cotovelo e do braço, alcançando o ombro e o tórax, até o coração. Volte para a extremidade do braço direito e repita o movimento, de modo que a palma da mão esquerda esteja voltada para a palma da mão direita.  Agora, por debaixo, mova a pressão pela palma da mão direita e ao longo do antebraço, cotovelo e braço, passando pela axila e depois o tórax, até o coração. Repita os movimentos, trocando de lado e segurando as pontas dos dedos da mão esquerda com a mão direita.

Figura 3. Mantendo-se sentado, passe para o pé direito. Segure a ponta dos dedos do pé com as duas mãos, uma de cada lado do pé e, no ritmo de pressionar e soltar, mova-as em direção ao calcanhar, massageando a planta e o dorso do pé direito. Depois, o tornozelo, panturrilha (detenha-se bastante nesta região), joelho, coxa, virilha e suba, a partir deste ponto, até a região do umbigo. Repita o movimento para a perna esquerda.

Figura 4. Ainda sentado, vá para as costas. Pressione a região dos rins usando a palma e os dedos ou o dorso dos dedos com os punhos cerrados das respectivas mãos. Faça um movimento circular nesta região sem retirar as mãos e depois mova-as, pressionando ponto a ponto, por debaixo das últimas costelas até o umbigo.

Figura 5. Pressione a área acima do umbigo (plexo solar) com os dedos da mão esquerda.  Faça um movimento circular no sentido horário envolvendo todo o abdômen, numa espiral que parte do umbigo para a periferia até completar 3 voltas.  Pressione dentro do umbigo algumas vezes para estimular a vitalidade.

Figura 6. Este movimento tonifica as costas, além das ramificações nervosas da coluna vertebral. Sente-se com as pernas dobradas, os pés apoiados no chão a sua frente e as mãos colocadas na dobra dos joelhos ou sobre eles. Deixe o corpo tombar para trás, rolando as costas no chão até a cabeça, enquanto mantém as mãos firmes nos joelhos. Impulsione o corpo de volta para sentar-se. Desta forma, massageie toda a coluna vertebral e sua ramificações nervosas, do cóccix à cervical e da cervical ao cóccix. Repetidas vezes (9 a 12) faça este balanço, num movimento de mata-borrão.

SOPRO "HÁ"

Figura 7. Fique de pé e afaste-os aproximadamente três palmos. Solte o ar completamente, tombando o tronco para frente, de modo que os joelhos dobrem suavemente, mantendo a cabeça e os braços pendurados livremente em seu peso natural. Inspire prolongada e profundamente, enquanto ergue o tronco e braços ao ponto mais alto. Nesta inspiração pense que está absorvendo tudo que é benéfico, como vitalidade, força, coragem e determinação. Retenha o ar por alguns segundos sem que haja desconforto. Aproveite para assimilar e impregnar seu corpo e mente com tudo aquilo que foi atraído positivamente.


Agora, fazendo um movimento rápido, firme, prazeroso, solto e completo, expire pela boca com um grito suave, deixando sair o som gutural “HA”, aspirado e forte, fruto do fluir brusco do ar pela garganta. Ao mesmo tempo, jogue o tronco e os braços relaxados para frente e para baixo, com os joelhos levemente flexionados. Durante esta fase, imagine que todas as mazelas, preocupações, imperfeições, bloqueios e negatividades estão se dissolvendo e sendo eliminadas definitivamente. Repita de 3 a 9 vezes todo o procedimento. Evite os exageros da garganta para que não a deixe irritada.

AGNI-SĀRA c/ SIṀHĀSANA

Esta prática obriga um vigoroso esforço abdominal, onde o ventre é levado para fora e puxado para dentro rápido e vigorosamente. Esta movimentação ativa os canais, tanto sutis quanto físicos, retirando toxinas, aumentando o fogo digestivo (jaṭharāgni), tonificando os órgãos abdominais, melhorando a capacidade digestiva e, consequentemente, a acuidade visual.

Figura 8. Apoiando a ponta dos pés no chão, sente-se sobre os calcanhares. Coloque os joelhos no chão afastados uns 2 palmos. Apoie as mãos sobre os joelhos, de modo a manter seus dedos estendidos e retesados, enquanto pressiona as palmas contra os joelhos. Inspire profundamente pelas narinas e, em seguida, solte o ar pela boca, colocando-a bem aberta e com a língua toda para fora. Esvazie seus pulmões completamente, recolhendo seu abdômen o máximo que puder. Levante a cabeça, tranque a respiração de pulmões vazios e faça um movimento vigoroso de expandir e recolher o abdômen,, enquanto olha para o ponto entre as sobrancelhas (bhrūmadhya dṛiṣhṭi). O nome desta postura é siṁhāsana (pose do leão) e o movimento abdominal é agni-sāra (aquilo que purga, solta ou libera pelo fogo digestivo; agni = fogo digestivo, sāra = purgativo, laxativo). Comece com 9 movimentos abdominais e avance até 27 movimentos.

NAULῙ

Figura 9. Fique de pé, com os pés separados uns 2 palmos. Espire, inclinando-se para frente. Faça uma expansão do tórax sem inspirar (uḍḍīyana bandha). Permanecendo nesta postura, relaxe a parede abdominal, enquanto pressiona a palma das mãos sobre os joelhos sem contrair o abdômen, para que se isole os retos abdominais (madhya naulī). Retire a pressão da mão esquerda, rolando o reto abdominal para a direita (dakṣhiṇa naulī). Em seguida, torne a pressionar com a esquerda e retire a pressão da mão direita, rolando o reto abdominal para a esquerda (vāma naulī). Alterne a pressão das mãos para rolar o músculo reto abdominal de um lado para o outro. Comece fazendo esta alternância 3 vezes para cada lado e progrida até 9 vezes.

JĀLA-NETῙ

Figura 10. Adquira um recipiente especial, o lota, para esta prática. É importante que a ponta do bico do lota adeque-se confortavelmente à cavidade da narina, de forma a não deixar que a água vaze. A água deve estar na mesma temperatura do corpo e deve ser adicionada uma quantidade de sal na proporção de uma colher de chá por litro de água. A adição de sal assegura que a pressão osmótica da água seja igual à dos líquidos corporais, dessa forma minimizando qualquer irritação à membrana da mucosa nasal. Se for sentida alguma dor ou irritação durante a prática, significa que há excesso ou pouco sal na mistura. Como referência, o excesso de sal na mistura dá a sensação da irritação que sentimos quando entra água do mar nas nossas narinas e a quantidade de sal insuficiente causa a mesma sensação de irritação da água de piscina.

Você pode fazer essa prática no quintal de casa ou se não tiver espaço suficiente, faça no box do banheiro, onde poderá assoar o nariz à vontade.

 

Encha o lota com a mistura de água e sal amornada. Fique de pé, com as pernas afastadas aproximadamente 4 palmos, distribuindo o peso do corpo por igual entre os pés. Feche os olhos e relaxe o corpo todo por alguns segundos antes de iniciar a prática. Vire a cabeça para o lado e incline o corpo para frente, de sessenta a noventa graus. Comece a respirar pela boca. Gentilmente insira o bico do lota na narina que ficou voltada para cima. É importante neste momento encaixar bem o bico do lota na narina para que não vaze de volta. Inspire normalmente pela boca e expire o mais lentamente que puder, deixando a água fluir. Não faça força, apenas incline o lota e deixe o peso da água fazer com que haja a circulação pelas narinas. O fluxo de ar pela garganta evitará que a água desça e fará com que naturalmente saia pela outra narina. Quando precisar inspirar novamente, interrompa o exercício, inspire e ao expirar volte a fazer a água fluir. Com alguma prática você poderá ser capaz de fazer a limpeza sem interromper para inspirar, mas no início, recomendo que evite, pois o esforço para inspirar pode fazer com que a água desça pela garganta. Para que o fluxo seja perfeito, é importante acertar a inclinação do tronco e da cabeça.

Quando chegar à metade do recipiente, retire o lota, traga a cabeça para o centro e deixe a água descer das narinas. Remova qualquer muco da narina assoando suavemente. Vire a cabeça para o lado oposto e repita o mesmo procedimento. Depois de completar o processo, drene as narinas completamente.

Fique de pé e com o corpo ainda inclinado para a frente, assoe com vigor, mas sem forçar demais, virando a cabeça em todas as direções, para frente e para trás, direita e esquerda várias vezes até sentir que a água e o muco saíram quase completamente. Para assegurar a secagem completa, tape a narina direita com o polegar e inspire pela esquerda, solte a narina direita, tape a esquerda e exale com certo vigor pela narina direita. Faça o mesmo no outro lado. Alterne algumas vezes esse movimento até que sinta que a água e o muco foram totalmente drenados das narinas.

PARABÉNS!!! Após 13 semanas, você completou o estágio PRELIMINAR. É hora de avançarmos para o próximo estágio.

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