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FILOSOFIA ANTIGA OU CLÁSSICA

 

A Filosofia Antiga corresponde ao período do surgimento da filosofia grega no século VII a.C. e a queda do Império Romano no século VI d.C.

 

Ela surge da necessidade de explicar o mundo e encontrar respostas para a origem das coisas, dos fenômenos da natureza, da existência e da racionalidade humana. No momento de sua origem os filósofos possuíam esse dom de interpretação, uma vez que eles acreditavam conseguir transmitir a mensagem dos deuses. Por esse motivo, no início, a filosofia estava intimamente relacionada com a religião: mitos, crenças, etc. Assim, o pensamento mítico foi dando lugar ao pensamento racional.

 

A filosofia antiga surge com o aparecimento da polis grega (cidade-estado). Essa nova organização social e política, pela qual a Grécia passava, foi fundamental para dar lugar a racionalidade humana e, com isso, as reflexões dos filósofos. Mais tarde, as discussões que ocorriam em praça pública juntamente com o poder da palavra e da razão (logos) levaram a criação da democracia.

 

A filosofia antiga está dividida em três períodos:

  • Período Pré-socrático (séculos VII a V a.C.): corresponde ao período dos primeiros filósofos gregos que viveram antes de Sócrates. Os temas estão centrados na natureza, do qual se destaca o filósofo grego Tales de Mileto.

  • Período Socrático (século V a IV a.C.): também chamado de período clássico, nesse momento surge a democracia na Grécia Antiga. Seu maior representante foi o filósofo grego Sócrates que começa a pensar sobre o ser humano. Além dele, merecem destaque: Aristóteles e Platão.

  • Período Helenístico (século IV a.C. a VI d.C.): Além de temas relacionados com a natureza e o homem, nessa fase os estudos estão voltados para a realização humana por meio das virtudes e da busca da felicidade.

 

Suas Principais Escolas Filosóficas

Agora que você já sabe os períodos em que está dividida, veja quais as principais escolas de pensamento da filosofia antiga:

  • Escola Jônica: reuniu os primeiros filósofos na cidade grega de Mileto, localizada na região da Jônia, no litoral ocidental da Ásia menor (atual Turquia). Além de Mileto, temos a cidade de Héfeso, com Heráclito como seu principal representante e Samos, com Pitágoras. Na cidade grega de Mileto destacam-se Tales de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes.

  • Escola Itálica: foi desenvolvida na atual região do sul da Itália (na cidade de Elei) e da Sicília (nas cidades de Aeragas e Lentini). Destacam-se os filósofos Parmênides, Zenão, Empédocles e Górgias.

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Âncora 1

TALES DE MILETO (623 a.C. – 558 a.C.)

 

Tales de Mileto, provavelmente descendente de fenícios, nasceu na antiga colônia grega Mileto, região da Jônia, atual Turquia, por volta de 623 ou 624 a.C. Foi um importante pensador, filósofo e matemático grego pré-socrático. É considerado, por alguns, o "Pai da Ciência" e da "Filosofia Ocidental".

 

Suas principais ideias expandiram os horizontes teóricos nas áreas da matemática, filosofia e astronomia. Para ele, a água era o principal elemento da natureza e a essência de todas as coisas.

 

Foi um homem de muitas habilidades e erudição, sendo assim, uma figura respeitada pelo povo grego. Buscou respostas racionais para os fenômenos da natureza e as razões da existência. Por isso, é considerado um dos primeiros filósofos a romper com o ponto de vista religioso.

 

Tales de Mileto faleceu aproximadamente em 556 ou 558 a.C. em sua cidade natal.

 

Razão x Mito

Na cidade de Mileto, foi fundador da "Escola Jônica", considerada a mais antiga escola filosófica, onde seus pensadores buscavam explicações cosmológicas, ou seja, por meio da natureza através das observações. Assim, eram adeptos da chamada “Filosofia Unitarista”, cujo princípio estava baseado no princípio único, no qual explica todas as coisas. No caso de Tales de Mileto, o elemento água.

 

Viajou para o Egito e para Babilônia aprofundando seus conhecimentos ao mesmo tempo que o disseminava tornando-se um homem muito admirado.

 

Ao lado de outros filósofos, Anaximandro e Anaxímenes, Tales de Mileto fundou a "Escola de Mileto" (Milésima). Seus seguidores ficaram conhecidos como 'Milesianos' e eram adeptos à filosofia, pautada em deuses antropomórficos (atribui-se aspectos humanos aos Deuses) e os fenômenos naturais.

 

Astronomia e Matemática

Suas contribuições na área da astronomia partiram de muitas observações que realizava, da qual chegou a prever o eclipse solar ocorrido no ano de 585 a.C. Na matemática, mais precisamente na área da geometria, a partir de demonstrações dedutivas, apresentou teorias sobre:

  • a semelhança dos triângulos e as relações sobre seus ângulos;

  • as retas paralelas;

  • e a propriedade das circunferências.

 

Filosofia de Tales de Mileto

A filosofia de Tales baseava-se em três teses principais:

  1. Tudo que conhecemos é feito de água e o homem é mais um ente desse meio;

  2. todas as coisas, incluso as inanimadas, estão cheia de vida;

  3. por outro lado, as mudanças e a geração só podem ser alcançadas pela condensação e a rarefação.

 

Quanto à estética, dizia que a busca pelo conhecimento, era o objeto mais belo que podíamos ter. Tales de Mileto, como muitos de sua época, não publicou nenhum livro em vida e seus ensinamentos nos chegaram através do seu discípulo Diógenes Laércio. Ocupou-se em explicar mais os fenômenos da natureza e da matemática. Portanto, não fez grandes considerações sobre a ética e os seres humanos.

 

Teorema de Tales

Diz-se que Tales foi convidado para descobrir a altura da pirâmide Quéops, no Egito. Diante disso, surgiu o Teorema de Tales, onde as retas paralelas e transversais formam segmentos proporcionais.

 

Frases de Tales de Mileto

  • A coisa mais difícil do mundo é conhecer a nós mesmos e a mais fácil, falar mal dos outros.

  • A água é o princípio de todas as coisas.

  • O ser mais antigo é Deus, porque não foi gerado.

  • Todas as coisas estão cheias de deuses.

  • A coisa mais bela é o mundo, porque é obra divina.

  • A esperança é o único bem comum a todos os homens; aqueles que nada mais têm ainda a possuem.

 

Curiosidades

  • Tales de Mileto é um dos “Sete Sábios da Grécia Antiga”, junto com Bias de Priene, Quílon de Esparta, Cleóbulo de Lindus, Periandro de Corinto, Pítaco de Mitilene e Sólon de Atenas.

  • O filósofo grego Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) aponta Tales de Mileto como o primeiro filósofo da humanidade.

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Âncora 2

PITÁGORAS (570 a.C. – 495 a.C.)

 

 

 

 

 

Foi um dos grandes filósofos pré-socráticos e matemáticos da Grécia Antiga. Pitágoras nasceu na ilha grega de Samos, na costa jônica, em 570 a.C. Estudou matemática, astronomia, música, literatura e filosofia na sua cidade natal. Segundo ele “tudo é número”, frase que indica uma explicação para a realidade e tudo que existe no mundo. A ele foi atribuído o uso e criação dos termos “filósofo” e “matemática”.

 

Foi orientado na cidade grega de Mileto por um dos maiores filósofos pré-socráticos: Tales de Mileto. No entanto, suas ideias revolucionárias para a época o levaram a ser perseguido. Nesse momento, mudou-se para Crotona (sul da Itália), região conhecida como Magna Grécia.

 

Foi ali que fundou uma escola de caráter místico-filosófico que ficou conhecida como “Escola Pitagórica”. Entretanto, foi perseguido novamente, deixando Crotona e partindo para o Egito, onde ao observar as pirâmides, criou o Teorema de Pitágoras.

 

O filósofo faleceu em Metaponto, na região sul da Itália, em 495 a.C. com aproximadamente 75 anos.

 

Segundo Pitágoras, os números são a base da vida na terra. A partir dessa premissa, surge o Pitagorismo (ou Escola Pitagórica), sendo os pitagóricos seus seguidores, dos quais se destacam: Temistocleia, Filolau de Crotona, Hipaso, Arquitas de Tarento, Alcmeão e Melissa.

 

Na escola, ele ministrou aulas nas áreas de matemática (aritmética e geometria), astronomia, música, filosofia, política, religião e moral. Segundo o matemático grego, os números representavam a harmonia e a ordem, ou seja, eram considerados a essência de todas as coisas.

 

Essa teoria de Pitágoras surgiu da observação entre a harmonia dos acordes musicais. Os pitagóricos acreditavam que essa concepção não era meramente matemática, mas também mística e espiritual. Nesse sentido, eles desenvolveram uma concepção espiritual da existência humana, onde a alma é libertada do corpo após a morte. Ou seja, eles acreditavam na reencarnação e no desenvolvimento das virtudes humanas enquanto a alma estava aprisionada ao corpo durante a vida. Como resultado, os homens poderiam reencarnar numa forma de existência mais elevada, conforme as virtudes conquistadas durante a trajetória terrena.

 

Além do famoso "Teorema de Pitágoras", os pitagóricos descobriram os números figurados e os números perfeitos. Na área da astronomia, Pitágoras também avançou com questões sobre a esfericidade do planeta Terra e o deslocamento dos astros utilizando conceitos matemáticos. Essa teoria baseada num Cosmos harmônico ficou conhecida como “Teoria da Harmonia das Esferas”.

 

Teorema de Pitágoras

Um dos mais importantes teoremas da geometria é o Teorema de Pitágoras. É representado pela fórmula (c²= a²+b²) sendo seu enunciado descrito da seguinte maneira: “No triângulo retângulo, composto por um ângulo interno de 90° (ângulo reto), a soma dos quadrados de seus catetos corresponde ao quadrado de sua hipotenusa.”

 

Esta fórmula vale para calcular o tamanho dos triângulos retângulos e tem um sem-número de aplicações especialmente nas construções em geral.

 

Frases de Pitágoras

Segue abaixo algumas frases de Pitágoras que resumem sua filosofia:

  • “O universo é uma harmonia de contrários.”

  • “A Evolução é a Lei da Vida, o Número é a Lei do Universo, a Unidade é a Lei de Deus.”

  • “A matemática é o alfabeto com o qual Deus escreveu o universo.”

  • “Observa o teu culto à família e cumpre teus deveres para com teu pai, tua mãe e todos os teus parentes. Educa as crianças e não precisarás castigar os homens.”

  • “O filósofo não é dono da verdade, nem detém todo conhecimento do mundo. Ele é apenas uma pessoa que é amiga do saber.”

  • “Os animais dividem conosco o privilégio de ter uma alma.”

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Âncora 3

SÓCRATES (470 a.C. - 399 a.C.)

 

Filósofo grego, um dos fundadores da filosofia ocidental, nasceu em Atenas, que em meados do século V a.C. tornou-se a metrópole da cultura grega. Da sua infância nada se sabe. Homem feito, chamava atenção não só pela sua inteligência mas também pela estranheza de sua figura e seus hábitos. Corpulento, olhos saltados, vestes rotas, pés descalços, costumava ficar horas mergulhado em seus pensamentos. Quando não estava meditando solitário, conversava com seus discípulos, procurando ajudá-los na busca da verdade.

 

Nessa época teve início a segunda fase da filosofia grega, conhecida como socrática ou antropológica, onde Sócrates foi o principal filósofo desse período. Nessa fase os filósofos passaram a se preocupar com os problemas relacionados ao indivíduo e a organização da humanidade. Passaram a perguntar: O que é verdade? O que é o bem? O que é a Justiça?, uma vez que na primeira fase da filosofia grega a preocupação era com a origem do mundo, fase que ficou conhecida como pré-socrática.

 

Para Sócrates existiam verdades universais, válidas para toda a humanidade em qualquer espaço e tempo. Para encontrá-las era necessário refletir sobre elas, descobrir suas razões. O princípio da filosofia de Sócrates estava na frase "Conhece-te a ti mesmo". Antes de lançar-se em busca de qualquer verdade, o homem precisa auto analisar-se e reconhecer sua própria ignorância. Sócrates inicia uma discussão e conduz seu interlocutor a tal reconhecimento, através do diálogo: é a primeira fase de seu método, chamada de ironia ou refutação.

 

Na segunda fase, a "maiêutica" (técnica de trazer à luz), Sócrates solicita vários exemplos particulares do que está sendo discutido. Por exemplo, se está procurando definir a coragem, pede descrições de atos considerados corajosos. Em seguida, analisa esses casos com a finalidade de descobrir o que é comum a todos eles. Esse algo comum é a coragem, a essência dos atos heroicos, e existirá em qualquer ato corajoso, independente das circunstâncias que o cercarem.

 

A "técnica de trazer à luz" pressupõe uma crença de Sócrates, segundo a qual a verdade está no próprio homem, mas ele não pode atingi-la porque não só está envolto em falsas ideias, em preconceitos, como está desprovido de métodos adequados. Derrubado esses obstáculos, chega-se ao conhecimento verdadeiro, que Sócrates identifica como virtude, contraposta ao vício, o qual se deve unicamente à ignorância. Daí sua frase famosa: "Ninguém faz o mal voluntariamente".

 

Por causa do incentivo ao raciocínio, Sócrates foi perseguido pelas autoridades de Atenas. Acusado de renegar os Deuses e corromper os jovens, foi julgado e condenado a suicidar-se ingerindo cicuta.

 

Sócrates não deixou obra escrita, achava mais eficiente o intercâmbio de ideias, mediante perguntas e respostas entre duas pessoas. São quatro as fontes básicas para o conhecimento de Sócrates: o filósofo Platão, seu discípulo, em cujos Diálogos o mestre figura sempre como personagem central. A segunda fonte é o historiador Xenofonte, amigo e frequentador assíduo das reuniões que Sócrates participava. O dramaturgo Aristófanes cita Sócrates como personagem em algumas de suas comédias, mas sempre o ridiculariza. A última fonte é Aristóteles, discípulo de Platão, e que nasceu 15 anos após a morte de Sócrates. Essas fontes nem sempre são coerentes entre si.

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Âncora 4

PLATÃO (428 a.C. - 347 a.C.)

 

Filosofo grego, considerado um dos principais pensadores de sua época. Platão nasceu em Atenas, provavelmente no ano de 428 a.C. De família nobre, estudou leitura, escrita, música, pintura, poesia e ginástica. Excelente atleta, participou dos Jogos Olímpicos como lutador. Desejava fazer carreira política, mas, muito cedo, tornou-se discípulo de Sócrates, com quem aprendeu a discutir os problemas do conhecimento do mundo e das virtudes humanas.

 

Como discípulo de Sócrates, procurava transmitir uma profunda fé na razão e na verdade, adotando o lema de Sócrates "o sábio é o virtuoso". Escreveu diversos diálogos filosóficos, entre eles "A República", obra dividida em dez volumes.

 

Quando Sócrates morreu, desiludiu-se com a política e dedicou-se à filosofia. Resolveu eternizar os ensinamentos do mestre, que não havia redigido nenhum livro, escreveu vários diálogos onde a figura principal é Sócrates.

 

Platão opôs-se à democracia ateniense e abandonou sua terra. Viajou para Megara, onde estudou Geometria, foi ao Egito, onde dedicou-se à Astronomia, em Cyrene (Norte da África) dedicou-se à matemática, em Crotona (Sul da Itália) reuniu-se com os discípulos de Pitágoras. Esses estudos deram-lhe a formação intelectual necessária para formular suas próprias teorias, aprofundando os ensinamentos de Sócrates.

 

Quando voltou à Atenas, por volta de 387 a.C., fundou sua escola filosófica "Academia", onde reunia seus discípulos para estudar Filosofia, Ciências, Matemática e Geometria.

 

Tal foi a influência de Platão, que sua Academia subsistiu, mesmo após sua morte. Em 529, o imperador romano Justiniano mandou fechar a Academia, mas a doutrina platônica já tinha sido amplamente difundida. O Platonismo designa o conjunto das ideias de Platão. Ele estava empenhado em um grande tratado - "As Leis", quando morreu, no ano de 347 a.C.

 

Das obras de Platão, cerca de trinta chegaram até nossos dias. As mais célebres foram escritas sob a forma de diálogo:

  • A República (dez volumes)

  • Protágoras

  • Apologia

  • Fédon

  • Fedro

  • Timeu

  • O Banquete

 

Sociedade Ideal - A República

Aplicando sua filosofia, Platão imaginou na "República", uma sociedade ideal, dividida em três classes, levando em conta a capacidade intelectual de cada indivíduo.

 

A primeira camada, mais presa às necessidades do corpo, seria encarregada da produção e distribuição de gêneros para toda a comunidade: lavradores, artífices e comerciantes.

 

A segunda classe, mais empreendedora se dedicava à defesa: os soldados. A classe superior, capacitada para servir-se da razão, seria a dos intelectuais, com poder político, assim os reis teriam de ser escolhidos entre os filósofos.

 

Mito da Caverna

Platão escreveu em forma de diálogo, no livro VII da "República", a história "mito da caverna", onde relata a vida de alguns homens que desde a infância se encontram aprisionados em uma caverna, com uma pequena abertura por onde penetra a luz.

 

Os homens passam o tempo olhando para uma parede de fundo. Lá fora, nas costas dos cativos, brilha um fogo aceso sobre uma colina e entre ela e os presos, passam homens carregando pequenas estátuas. As sombras desses passantes são projetadas no fundo da caverna.

 

As vozes ouvidas são atribuídas às próprias sombras, para eles a única realidade. Quando um dos cativos consegue evadir-se, percebe que tinha vivido num mundo irreal.

 

Platão usa todas essas imagens para dizer que o mundo que percebemos com nossos sentidos, é um mundo ilusório e confuso, é o mundo das sombras.

 

Mas esta realidade sensível não é todo o universo. Há um reino mais elevado, espiritual, eterno, onde está o que existe de verdade, é o mundo das ideias, que só a razão pode conhecer, e que apenas os filósofos podem perceber.

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Âncora 5

ARISTÓTELES (384 a.C. - 322 a.C.)

 

Nasceu em Estagira, na Macedônia, em 384 a.C. Seu pai, Nicômaco, era médico e amigo do rei da Macedônia, Amintas II. Com 17 anos, partiu para Atenas e começou a frequentar a Academia de Platão. Ali permaneceu durante 19 anos, até a morte de seu mestre. Logo se tornou o discípulo predileto do mestre, que observou: Minha Academia se compõe de duas partes: o corpo dos estudantes e o cérebro de Aristóteles”.

Com a morte de Platão, em 347 a.C., o brilhante e famoso aluno se considerava o substituto natural do mestre na direção da Academia. Porém, foi rejeitado e substituído por um ateniense nato, Espeusipo. Decepcionado, deixou Atenas e partiu para Atarneus, na Ásia Menor – então grega. Foi conselheiro de estado de um antigo colega, o filósofo político Hermias. Casou com Pítria, filha adotiva de Hermias, mas quando os persas invadiram o país e mataram seu governante, ficou novamente sem pátria.

 

Em 343 a.C., foi convidado por Filipe II da Macedônia para preceptor de seu filho Alexandre. O rei queria que seu sucessor fosse um requintado filósofo. Assim, como preceptor na corte da Macedônia durante quatro anos, teve a oportunidade de prosseguir suas pesquisas e desenvolver muitas das suas teorias. 

 

Quando retornou a Atenas, em 335 a.C., Aristóteles decidiu fundar sua própria escola chamada Liceu por estar situada no edifício dedicado à divindade Apolo Lício e às Musas. Ali, passeando, tratava com seus discípulos das questões filosóficas mais profundas, e à tarde, expunha, diante de um auditório mais amplo, temas mais acessíveis: retórica, sofística e política. Além dos cursos técnicos para os discípulos, dava aula ao povo em geral. No Liceu, estudava-se geometria, física, química, botânica, astronomia, matemática, etc.

Em 323 a.C., com a morte de Alexandre Magno, rei da Macedônia, que então dominava a Grécia, Aristóteles foi acusado de ter apoiado o governo déspota e resolveu abandonar novamente Atenas. deslocou-se para Cálcides, na ilha de Elba (Eubeia), onde sua mãe tinha uma casa e a influência macedônica era menos intensa. Ali morreu no ano de 322 a.C.

A influência de Aristóteles sobre o desenvolvimento da Filosofia no mundo ocidental foi enorme, notadamente na Filosofia Cristã de São Tomás de Aquino durante a Idade Média. Sua influência se faz sentir até os nossos dias.

Aristóteles escreveu dois tipos de livros: (1) os chamados de exotéricos, na forma de diálogos, destinados a um grande público; e (2) os filosóficos ou esotéricos, que tratavam de assuntos profundos, dirigidos aos núcleos reduzidos do Liceu. Seus diálogos se perderam, restando apenas fragmentos; enquanto sua obra científica se conservou.

Dividia a ciência teóricas (teoria), práticas (práxis) e poética (poiesis). Entre as ciências teóricas, temos: a matemática, a física e a metafísica. As principais obras deste grupo são: "Física", "Sobre o Céu", "Do Mundo", "Da Alma" e "Metafísica" ou "Prima Filosofia".

Entre as ciências práticas, temos: a ética, a política e a economia. Suas obras principais são as três Éticas: "Ética a Nicômaco", "Ética a Eudemo" e "Grande Ética". Há ainda a "Política" e "Economia" (essa, de um interesse menor).

Entre as obras poéticas, temos: a arte, como a música e a poesia. suas principais obras são: "Arte Poética" e "Retórica".

Acima da ciência e anterior a todas e que serve a todas está a Lógica, onde sua principal obra foi intitulada "Organon", que constitui uma autêntica metodologia científica.

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Âncora 6

EPICURO (341 a.C. – 271 a.C.)

 

Foi um filósofo grego, que viveu no período denominado Helenístico. Considerado o "Profeta do Prazer" e o "Apóstolo da Amizade", Epicuro foi o primeiro a sugerir a Teoria Darwiniana ao apresentar um esboço, extraordinariamente moderno, da evolução, 2.300 anos antes de Darwin.

 

Nasceu na ilha de Somos, Grécia, em 341 a.C. Estudou filosofia, foi aluno de Pânfilo, seguidor das ideias de Platão, das quais Epicuro rejeitava. Mudou-se para Téos, onde tece os primeiros contatos com a teoria atômica, pregada por Nausífanes, discípulo de Demócrito. Embora aceitasse o materialismo dos atomistas, rejeitava o mecanismo absoluto defendido por eles.

 

Epicuro utilizou-se da Teoria Atômica de Demócrito para justificar que o átomo era o elemento formador de todas as coisas e poderia formar outros corpos, mesmo com a morte física. Reformulou a teoria nos pontos que discordava e ensinava que os átomos eram diminutos e indivisíveis, e que a mudança e o desenvolvimento resultam da combinação ou da separação dessas partículas. O principal intuito das modificações especiais da teoria atômica era tornar possível a crença na liberdade humana.

 

Se os átomos só fossem capazes de movimentos mecânicos, o homem, feito de átomo, ficaria reduzido a situação de um autômato e seria o fatalismo à lei do universo. Epicuro com esse repúdio da interpretação mecanicista da vida, estava provavelmente mais próximo do espírito helênico do que Demócrito ou o Estoicismo.

 

Principais Ideias

Epicuro deu origem a filosofia epicurista, baseada no prazer da amizade. Epicuro não acreditava na imortalidade. A vida, dizia ele, era uma tragédia. Não somos filhos de Deus, vivemos e morremos por acaso e depois da morte não há outra vida.

 

Dizia que era um dever do homem tornar a vida presente a melhor possível. E a melhor espécie de vida era a vida de prazer - não de prazer turbulento, mas de prazer refinado. Cultivar a felicidade da vida simples. Aprender a gozar do pouco que tendes e evitar os excitamentos de ambicionar mais.

 

Cultivar um tranquilo senso de humor, aprender a sorrir diante das loucas ambições dos amigos. Aprender também a auxiliá-los nas suas necessidades. Desenvolver o talento de adquirir amigos. Não podeis ser mais felizes do que partilhar vossa felicidade com vossos amigos. De todos os prazeres do mundo, o maior e o mais duradouro é a amizade.

 

Epicuro pregou a doutrina do egoísmo, um novo modo de egoísmo: era um egoísmo esclarecido, baseado na regra de dar e tomar. Devemos dar prazer afim de receber prazer. Usado em termos negativos, não deveis infligir qualquer injúria. Vivei e deixai viver. Em outras palavras, o mais sensível meio de ser egoísta é não ser egoísta. Ser vosso melhor amigo, sendo um bom amigo para os outros.

 

Epicuro fazia oposição à Academia de Platão e ao Liceu de Aristóteles, buscando uma filosofia mais prática que correspondesse a seu tempo. Fundou sua própria escola, chamada "Jardim", onde pregava um bom relacionamento entre mestres e discípulos.

 

Frases

  • A justiça é a vingança do homem em sociedade, como a vingança é a justiça do homem em estado selvagem.

  • Nenhum prazer é em si um mal, porém certas coisas capazes de engendrar prazeres trazem consigo maior número de males que de prazeres.

  • Os prazeres do amor jamais nos serviram. Devemos nos considerar felizes se não nos aborrecerem.

  • Aquele que melhor goza a riqueza é aquele que menos necessidade dela tem.

  • O prazer de fazer o bem, é maior do que recebê-lo.

  • A necessidade é um mal, mas não há necessidade de viver nela.

  • Se queres a verdadeira liberdade, deves fazer-te servo da filosofia.

  • Nada é bastante ao homem para quem tudo é demasiado pouco.

  • O desejo é a causa de todos os males.

  • Não temos tanta necessidade da ajuda dos amigos quanto da certeza da sua ajuda.

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Âncora 7

OS ESTÓICOS (séc. IV a.C. – séc. II d.C.)

 

                                 Zenão                 Crísipo                 Panécio                Posidônio                 Sêneca                Epicteto             Marco Aurélio

  

Foi uma escola de filosofia helenística fundada em Atenas, numa galeria pública decorada com preciosas pinturas (stoapoikile; stoa = galeria), de onde surgiu o nome “estoicos”, por Zenão de Cítio (334 a.C. – 262 a.C.), natural de Cítio, na ilha de Chipre, no início do século IV a.C. O simples sentido da palavra estoicismo, que ao ser pronunciada evoca a ideia de uma virtude austera e, talvez, altiva, leva em si a derivação dessa doutrina filosófica, uma verdadeira e admirável moral.

 

Os estoicos ensinaram que as emoções destrutivas resultavam de erros de julgamento, da relação ativa entre determinismo cósmico e liberdade humana e a crença de que é virtuoso manter uma vontade (chamada prohairesis) que está de acordo com a natureza. Devido a isso, os estoicos apresentaram sua filosofia como um modo de vida e pensavam que a melhor indicação da filosofia de um indivíduo não era o que uma pessoa diz, mas como essa pessoa se comporta. Para viver uma boa vida, era preciso entender as regras da ordem natural, uma vez que ensinavam que tudo estava enraizado na natureza.

 

Mais tarde os estoicos – tais como Sêneca e Epicteto – enfatizaram que, porque "a virtude é suficiente para a felicidade", um sábio era imune ao infortúnio. Essa crença é semelhante ao significado da frase "calma estoica", embora a frase não inclua as visões dos "radicais éticos" estoicos, onde somente um sábio pode ser considerado verdadeiramente livre e que todas as corrupções morais são igualmente perversas. O estoicismo desenvolveu-se como um sistema integrado pela lógica, pela física e pela ética, articuladas por princípios comuns. A ética estoica que teve maior influência no desenvolvimento da tradição filosófica e alguns pensam que chegou a influenciar os primórdios do cristianismo.

 

Desde a sua fundação, a doutrina estoica era popular com seguidores na Grécia Antiga e por todo o Império Romano, incluindo o imperador romano Marco Aurélio (121 a.C. – 180 a.C.), até o fechamento de todas as escolas de filosofia pagã em 529 d.C. por ordem do Imperador Justiniano (527 d.C. – 565 d.C.), que os percebeu como em desacordo com a fé cristã. O neoestoicismo foi um movimento filosófico sincrético, juntando-se o estoicismo e o cristianismo, influenciado por Justus Lipsius.

 

O estoicismo floresceu na Grécia com Cleantes de Assos e Crísipo de Solos, ambos discípulos de Zenão de Cítio, sendo levado a Roma no ano 155 a.C. por Diógenes da Babilônia. Ali, seus continuadores foram Marco Aurélio, Sêneca (4 a.C. - 65 d.C.), Epicteto e Lucano.

 

Podemos separar o estoicismo em três grandes períodos ou escolas: o estoicismo antigo, o estoicismo médio e neoestoicismo. A escola antiga, como já vimos, foi fundada por Zenão de Cítio e seguida por:

  • Cleantes de Assos (330 a.C. – 230 a.C.),

  • Perseu de Cítio (306 a.C. – 243 a.C.),

  • Aristo de Quios (nasceu por volta de 300 a.C.),

  • Hérilos de Cartago,

  • Crísipo de Solos (280 a.C. – 208 a.C.),

  • Diógenes da Babilônia (240 a.C. – 152 a.C.),

  • Antípatro de Tarso (morreu em 129 a.C.).

 

Panécio de Rodes (185 a.C. – 109 a.C.), discípulo de Diógenes da Babilônia e Antípatro de Tarso, foi o fundador da segunda escola estoica, seguido por:

  • Mnesarco de Atenas (160 a.C. – 85 a.C.),

  • Dárdano de Atenas (160 a.C. – 85 a.C.),

  • Posidônio de Apamea (135 a.C. – 51 a.C.).

 

Por fim, a escola estoica romana, onde surgiu o neoestoicismo:

  • Sêneca (morreu em 65 d.C.),

  • Epicteto (50 d.C. – 138 d.C.),

  • Marco Aurélio (121 d.C. – 180 d.C.).

 

A escola estoica preconizava o cultivo da equanimidade frente à dor de ânimo causada pelos males e agruras da vida. Foi bastante influenciada pelas doutrinas cínica e epicurista, além da influência de Sócrates.

 

Princípios básicos do estoicismo

"A filosofia não visa a assegurar qualquer coisa externa ao homem. Isso seria admitir algo que está além de seu próprio objeto. Pois assim como o material do carpinteiro é a madeira, e o do estatuário é o bronze, a matéria-prima da arte de viver é a própria vida de cada pessoa." — Epiteto

 

Os estoicos apresentavam uma visão unificada do mundo consistindo de uma lógica formal, uma física não dualista e uma ética naturalista. Dentre estes, eles enfatizavam a ética como o foco principal do conhecimento humano, embora suas teorias lógicas fossem de mais interesse para os filósofos posteriores.

 

O estoicismo ensina o desenvolvimento do autocontrole e da firmeza como um meio de superar emoções destrutivas. Defende que tornar-se um pensador claro e imparcial permite compreender a razão universal (logos). Um aspecto fundamental do estoicismo envolve a melhoria da ética do indivíduo e de seu bem-estar moral: "A virtude consiste em um desejo que está de acordo com a natureza". Este princípio também se aplica ao contexto das relações interpessoais; "libertar-se da raiva, da inveja e do ciúme" e aceitar até mesmo os escravos como "iguais aos outros homens, porque todos os homens são igualmente produtos da natureza".

 

A ética estoica defende uma perspectiva determinista. Com relação àqueles que não têm a virtude estoica, Cleantes uma vez opinou que o homem ímpio é "como um cão amarrado a uma carroça, obrigado a ir para onde ela vai". Já um estoico de virtude, por sua vez, alteraria a sua vontade para se adequar ao mundo e permanecer, nas palavras de Epicteto, "doente e ainda feliz, em perigo e ainda assim feliz, morrendo e ainda assim feliz, no exílio e feliz, na desgraça e feliz", assim afirmando um desejo individual "completamente autônomo" e, ao mesmo tempo, um universo que é "um todo rigidamente determinista".

 

Características do estoicismo

  • Virtude é o único bem e caminho para a felicidade;

  • Indivíduo deve negar os sentimentos externos;

  • O prazer é um inimigo do homem sábio;

  • Universo governado por uma razão universal natural;

  • Valorização da apatheia (equanimidade);

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Âncora 10

PAULO DE TARSO (5 d.C. – 67 d.C.)

 

 

 

 

 

 

Paulo de Tarso era inicialmente chamado de Saulo. Nascido na cidade de Tarso, capital da província romana da Cilícia. Depois de Jesus, é considerado a figura mais importante do cristianismo. Quando se mudou para Jerusalém, para tornar-se um dos principais sacerdotes do Templo de Salomão, deparou-se com uma seita iniciante nascida dentro do judaísmo, mas que era contrária aos principais ensinos farisaicos.

 

Era também cidadão romano, o que lhe conferia uma situação legal privilegiada. A questão de sua cidadania romana gera certa curiosidade. Paulo afirma em Atos 22, 28 ser romano "de nascimento". Tal declaração parece indicar que o apóstolo herdou essa posição de seu pai.

 

Dentro da extrema honestidade para com a sua fé e sentindo-se profundamente ofendido com a seita que se chamava cristã, originada nos ensinamentos de Jesus, começou a persegui-la. No ano de 32 d.C., dois anos após a crucificação de Jesus, Saulo viajou para Damasco atrás de seguidores do cristianismo, principalmente de um, que se chamava Barnabé. Na entrada desta cidade, teve uma visão de Jesus, envolvido por fortíssima luz, que em espírito lhe perguntava: “Saulo, Saulo, por que me persegues”? Ficou cego imediatamente. Foi então levado para a cidade. Depois de alguns dias, um discípulo de Jesus, chamado Ananias, foi incumbido de curá-lo. Após voltar a enxergar, converteu-se ao cristianismo, mudando o seu nome para Paulo.

 

A conversão de Paulo mudou radicalmente o curso de sua vida. Com suas atividades missionárias e obras, Paulo acabou transformando as crenças religiosas e a filosofia de toda a região da bacia do Mediterrâneo. Sua liderança, influência e legado levaram à formação de comunidades dominadas por grupos gentios que adoravam o Deus de Israel, aderiam ao código moral judaico, mas que abandonaram o ritual e as obrigações alimentares da Lei Mosaica por causa dos ensinamentos de Paulo sobre a vida e obra de Jesus e seu "Novo Testamento", fundamentados na morte de Jesus e na sua ressurreição. Tornou-se então o “Apóstolo dos Gentios”, ou seja, aquele enviado para disseminar o Evangelho entre o povo não judeu. Em 34 d.C., foi a Jerusalém, levado por Barnabé, para se encontrar com Pedro e Tiago, líderes da principal comunidade cristã até então.

 

Fez quatro grandes viagens missionárias sendo que na última foi à Roma como prisioneiro, para ser julgado, e nunca mais retornou para a Judéia. Certamente escreveu inúmeras cartas, mas somente 14 destas foram preservadas, chamadas de Epístolas Paulinas. Através de suas cartas, Paulo transmitiu às comunidades cristãs e aos seus discípulos uma fé fervorosa em Jesus Cristo, na sua morte e ressurreição. A esta fé soma-se um fator fundamental, o seu temperamento, passional, enérgico, ativo, corajoso e poético.

 

Dessas quatorze epístolas do Novo Testamento atribuídas a Paulo, a autoria de sete delas, são contestadas por estudiosos modernos, a saber: Efésios, Colossenses, II Tessalonicenses, I Timóteo, Tito e Hebreu. As outras sete que são, de fato, atribuídas a Paulo são: Romanos, I Coríntios, II Coríntios, Gálatas, Filipenses, I Tessalonicenses, Filêmon. Paulo aparentemente ditou todas as suas epístolas (exceto Gálatas) através de um secretário, que geralmente parafraseava o tom de sua mensagem, como era a prática entre os escribas do século I. Estas epístolas circularam entre as comunidades cristãs e eram lidas em público por membros da igreja, juntamente com outras obras. As epístolas paulinas foram na sua maioria escritas para igrejas que Paulo visitou e o apóstolo era um grande viajante. Ele passou por Chipre, por toda a Ásia Menor, pela Grécia, Creta e Roma. Elas estão repletas de exposições sobre o que os cristãos devem acreditar e como devem viver, ao passo que ele não relata as comunidades destinadas muito sobre a vida de Jesus.

 

Mais tarde, Agostinho de Hipona desenvolveu a ideia de Paulo que a salvação é baseada na fé e não nas "obras da Lei". Já a interpretação de Martinho Lutero sobre as obras de Paulo influenciou fortemente sua doutrina de sola fide.

 

No ano de 67 d.C., foi morto (decapitado) pelas Legiões Romanas, nas perseguições aos Cristãos instauradas pelo Imperador Nero, depois do grande incêndio de Roma, em meados dos anos 60. O tratamento mais "humano" dado a Paulo, em contraste com a crucificação invertida de Simão Pedro, foi graças à sua cidadania romana.

 

Frases de Paulo de Tarso

  • Todas as coisas me são lícitas; mas nem todas convêm.

  • Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor.

  • Ainda que eu falasse a língua dos homens, e falasse a língua dos anjos, sem amor, eu nada seria.

  • Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo.

  • Tudo posso naquele que me fortalece.

  • Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.

  • Tudo é permitido, mas nem tudo convém. Tudo é permitido, mas nem tudo edifica.

  • Nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos. Suportar, não meramente tolerar ou “aguentar”, mas sustentar com amor.

  • O amor é sempre paciente e generoso. Nunca é invejoso, não é rude nem egoísta. Não se ofende nem se ressente, mas se regozija com a verdade.

  • Que o amor não seja fingido. Que seja sincero. E aborreça o mal.

  • Caminhamos pela fé, e não pela visão.

  • Se Deus é por nós, quem será contra nós?

  • Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as coisas fortes.

  • E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.

  • Não esqueçais que o verdadeiro perdão se reconhece pelos atos, muito mais que pelas palavras.

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Âncora 9

FÍLON DE ALEXANDRIA (10 a.C - 50 d.C)

Fílon foi um dos mais renomados filósofos do judaísmo helênico, que interpretou a Bíblia (Antigo Testamento) utilizando elementos da filosofia de Platão; para ele o Criador de Platão é o Deus criador dos hebreus. Foi autor de numerosas obras filosóficas e históricas, onde expôs a sua visão platônica do judaísmo. Surge como o primeiro pensador a tentar conciliar o conteúdo bíblico à tradição filosófica ocidental. Neste sentido, é mais conhecido por sua doutrina do “logos”, sobre a qual ainda se encontram à espera de solução inúmeras controvérsias.

 

Estuda os textos bíblicos exegeticamente e vê neles muito mais do que os significados textuais. Busca nas palavras a autenticidade da mensagem divina. Através dessa interpretação ele vê na Bíblia a doutrina da existência de Deus. As palavras são somente um instrumento para se tentar conhecer Deus que por princípio não pode ser expresso por palavras.

 

Através da exegese Fílon revela um significado nas palavras bíblicas que vão além do significado imediato e literal. Este modo de interpretação vai ser muito utilizado pela Patrística. Ele tenta conciliar a filosofia grega e o judaísmo, mas nem os gregos nem os judeus aceitaram muito bem a sua obra, que somente foi reconhecida e aprovada pelos primeiros cristãos.

 

Fílon estava convencido de que a fé judaica e a filosofia grega coincidiam em diversos pontos, em especial na busca da verdade. Para ele existe um Deus único, incorpóreo e que não tem princípio. Deus criou o Logos, que é a atividade intelectiva de Deus, e ao Logos devemos a criação do mundo. O Logos é o que está entre Deus e os homens, é o intermediário da relação entre os dois. O Logos é o ser mais antigo, o primeiro a ser criado por Deus e é também a sua imagem.

 

Deus transcende a tudo o que é conhecido pelo homem, ele vai além dos limites da experiência material. O homem tem por fim voltar a se unir a Deus que é perfeito e do qual nós não temos a capacidade de compreensão. Para se unir a Deus o homem tem que se libertar da sua ligação com o corpo.

 

O homem é constituído por corpo, intelecto e espírito originário de Deus. A inteligência humana pode ser corrompida, e quando é corrompida ela se torna terrena, mas se ela se ligar ao espírito divino ela vai descobrir a verdadeira vida. Segundo Fílon o homem pode levar sua vida de três formas, a primeira é ligada ao corpo como extensão física, essa é a forma mais básica e inferior. A segunda é a dimensão da razão, que é a nossa alma ligada ao intelecto, o homem nessa dimensão utiliza a razão para direcionar sua vida. E a última e superior forma é a ligada ao divino, nessa dimensão a alma e o intelecto tornam-se eternos à medida que estão ligados ao espírito divino.

 

Nascimento e vida

Provavelmente, Filon nasceu com o nome de Julius Philo. Seus ancestrais de sua família foram contemporâneos da dinastia Ptolomaica e às leis do Império Seleucida. Embora o nome de seus pais seja desconhecido, sabe-se que sua família era constituída de nobres. Isso é notável, pois ou seu pai ou seu avô paterno teve sua cidadania Romana garantida pelo ditador Gaius Julius Cesar. São Jerônimo escreveu que Filon veio de “genere sacerdotum”, ou seja, de uma família de sacerdotes. Seus ancestrais e sua família, tinham fortes laços sociais e fortes conexões com o sacerdócio na Judeia, com a dinastia dos Asmoneus, a dinastia Heródes e a dinastia Julius-Claudius, em Roma.

 

Filon visitou o Templo em Jerusalém, pelo menos uma vez em toda a sua vida. Provavelmente, foi contemporâneo de Jesus de Nazaré e seus Apóstolos. Filon, juntamente com seus irmãos, recebeu uma educação completa. Foram educados na cultura helenista da época de Alexandria e na cultura Romana, com estudos na antiga cultura egípcia e particularmente nas tradições judaicas, no estudo das literaturas judaicas tradicionais bem como na filosofia grega.

 

Suas ideias

Fé e Razão

Para Fílon havia um esboço da tentativa de conciliar fé e razão. Para ele, a Teologia era superior à filosofia, mas a filosofia era indispensável para que não se interpretasse as escrituras de forma literal. A respeito da Bíblia, ele recorre à noção de alegoria: para Fílon, as Escrituras teriam um sentido literal e um sentido oculto. Os personagens e situações que são compreendidos por uma leitura mais superficial escondem significados filosóficos em vários níveis. Para estar apto para essa leitura alegórica das Escrituras, a filosofia era indispensável. Por isso, Fílon considera os filósofos como inferiores aos profetas: para ele, a filosofia não consegue alcançar a perfeição de Moisés e, assim, não optava por uma filosofia em detrimento da outra, pois todas as doutrinas tendiam à imperfeição.

 

Logos de Deus

Podemos perceber que, para Fílon, há uma distinção entre a atividade de filosofar e a “sapiência”, noção que talvez ele tenha desenvolvido a partir de Aristóteles. A sabedoria, para ele, procede do Logos Divino. O Logos, um princípio a partir do qual Deus opera no mundo, pode ser entendido como:

  • Uma realidade incorpórea;

  • Tem um aspecto imanente, pois o mundo sensível é criado a partir dele;

  • Pode ser entendido como tendo a função de reunir os poderes de Deus, inúmeras expressões da sua atividade;

  • Também pode ser entendido como a fonte dos poderes ilimitados de Deus; (Fílon cita dois: O poder criativo e o poder régio);

  • Tem o sentido de “Palavra de Deus”, no sentido criador que aparece no Evangelho de João. Nesse sentido, foi apropriado pelos primeiros cristãos como uma prefiguração de Cristo, ou seja, Cristo seria o Logos de Deus;

  • Tem um sentido ético como “Palavra de Deus que guia para o bem”;

  • Por fim, ele entende o Logos como um cosmo inteligível; que Deus cria em sua mente para, a partir dela, criar a matéria, ou seja, o mundo físico. Nesse sentido, ele concilia a noção de “mundo das ideias” de Platão ao pensamento religioso: aquilo que Platão se referiu como “ideias”, para Filon correspondia a pensamentos de Deus.

 

Antropologia de Fílon

Novamente, em sua concepção de humano, Fílon concilia o pensamento platônico ao pensamento religioso: se para Platão havia a distinção entre corpo e mente, Fílon acrescenta uma terceira dimensão ao humano, a dimensão espiritual.

 

A alma humana corresponderia ao intelecto, material, terreno e corruptível. A alma humana não era imortal nessa concepção, como era Platão. Imortal é o Espírito (pneuma), conferido por Deus e que representa, portanto, o vínculo entre o humano e o divino. A partir dessa divisão, compreende-se que a vida humana teria três possibilidades: uma dimensão física/animal, referente ao corpo; uma dimensão racional, referente à capacidade de pensar da alma-intelecto; uma dimensão espiritual, referente à possibilidade de a alma humana viver segundo o Espírito.

 

Com essa terceira dimensão, a Espiritual, Fílon introduz a moral como parte da filosofia e da religião. A vida feliz, para ele, pode ser pensada a partir da figura de Abraão durante seu exílio: a ideia da realização humana está vinculada a uma espécie de “itinerário para Deus”, ideia que será desenvolvida por Santo Agostinho. O homem precisa, nesse sentido, transcender a si mesmo para se dedicar a Deus, fonte de tudo o que possui.

 

Algumas obras

  • De Aeternitate Mundi – Sobre a Eternidade do Mundo

  • De Abrahamo – Sobre Abraão

  • De Mutatione Nominum – Sobre a Mudança de Nomes

  • De Plantatione – Sobre Plantação

  • De Agricultura – Sobre Agricultura

  • De Decalogo – Sobre o Decálogo

  • De Sacrificius Abelis et Cainis – Sobre o Sacrifício de Caim e Abel

  • De Gigantibus – Sobre os Gigantes

  • De Josepho – Sobre Josefo

  • De Opificio Mundi – Sobre a Criação do Mundo

  • De Vita Contemplativa – Sobre a Vida Contemplativa

  • De Vita Mosis – Sobre a Vida de Moises

  • De Sobrietate – Sobre a Sobriedade

  • De Somniis – Sobre o Sono

  • De Specialibus Legibus – Sobre Leis Especiais

  • De Praemiis et Poenis – Sobre a Recompensa e a Punição

  • In Flaccus – Flaco

  • Quaestiones et Solutiones in Genesim – Perguntas e Respostas Sobre Gênese

  • Quaestiones et Solutiones in Exodum – Perguntas e Respostas Sobre Êxodo

  • Quod Deterius Potiori Insidari Soleat – O Que é Pior é Mais Dominante

  • Quod Omnis Probus Líber Sit – Tudo Que é Honesto é Livre

 

Frases de Fílon de Alexandria:

  • Para a criatura, o melhor momento para encontrar seu criador é quando ela se torna nula.

  • Devemos viver para Deus e não para nós mesmos.

  • Pois em verdade, uma vida de sabedoria é um deleite de vasto júbilo, e a alegria mais adequada à alma racional. Mas uma vida sem sabedoria é dura e terrível. Sim, porque, ainda que alguém seja completamente iludido pelos prazeres sensíveis, tanto antes como depois deles, lhe chega sofrimento.

  • Pois mais nobre é o homem sábio e pobre que o rico e tolo, o inglório mais que o glorioso e o enfermo mais que o saudável. Pois quem quer que esteja com a sabedoria é completamente nobre, independente e imperioso. Mas quem quer que esteja com a tolice é um escravo e débil.

  • Então, que o Universo inteiro, maior e mais perfeito rebanho do verdadeiro Deus, diga: ‘O Senhor me apascenta, e nada me falta’.

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Âncora 8

PLOTINO (205 d.C. – 270 d.C.)

 

Plotino nasceu em Licópolis, Egito, foi um discípulo de Amônio Sacas por 11 anos e mestre de Porfírio. Plotino nos legou ensinamentos em seis livros, de nove capítulos cada, chamados de As Enéadas.

 

Acompanhou uma expedição à Pérsia, liderada pelo imperador Gordiano, onde tomou contato com a filosofia persa e indiana. Regressou à Alexandria e, aos 40 anos, estabeleceu-se em Roma. Desenvolveu as doutrinas aprendidas de Amônio Saccas numa escola de filosofia junto a seleto grupo de alunos. Pretendia fundar uma cidade chamada Platonópolis, baseada nos ensinamentos de A República de Platão.

Porfírio, seu discípulo, trinta anos após a morte de Plotino, publicou os tratados, em uma ‎edição completa. No trabalho editorial, Porfírio subdividiu alguns escritos de forma a ‎atingir o número de 54 tratados. Seguindo a tradição pitagórica, tem-se que 54 = 6 (número da ‎perfeição) x 9 (número da totalidade). Assim, ele obteve 6 grupos temáticos, contendo 9 ‎‎tratados cada qual (donde Enéadas; “enea” = “nove”). ‎

 

Conta Eunápio que Porfírio, após haver estudado com Plotino, tomou horror ao próprio corpo e velejou para a Sicília, seguindo a rota de Odisseu, e ficou em um promontório da ilha, sem se alimentar e evitando o caminho do homem; Plotino, que ou o estava seguindo ou recebeu informações sobre o jovem discípulo, foi até ele e o convenceu com suas palavras, de modo que Porfírio voltou a reforçar seu corpo para sustentar sua alma.

 

Os critérios editoriais de Porfírio, possivelmente, tinham por objetivo formar uma série que ‎mostrasse o caminho para a sabedoria. Nas palavras de O'Meara: "Com isso Porfírio quis ‎oferecer ao leitor uma passagem pelos escritos de Plotino que lhe traria uma formação ‎filosófica, uma condução até o bem absoluto. O alvo geral da leitura e interpretação dos textos ‎nas escolas do Império era, em primeira linha, a transformação da vida, a cura da alma, a ‎condução para uma vida boa resultante disso”.

 

A influência de Plotino e dos neoplatônicos sobre o pensamento cristão, islâmico e judaico, bem como sobre os pensadores do Renascimento, foi enorme. Foram direta ou indiretamente influenciados por ele, Gregório de Nazianzo, Gregório de Nissa, Santo Agostinho, Pseudo-Dionísio, o Areopagita, Boécio, João Escoto Erígena, Alberto Magno, Santo Tomás de Aquino, Dante Alighieri, Mestre Eckhart, Johannes Tauler, Nicolau de Cusa, São João da Cruz, Marsílio Ficino, Pico de la Mirandola, Giordano Bruno, Avicena, Ibn Gabirol,Espinosa, Leibniz, Coleridge, Henri Bergson e Máximo, o Confessor.

 

Teoria

Plotino dividia o universo em quatro hipóstases: O Uno, o Nous (ou mente), a Alma e a Matéria.

 

Uno

Segundo Plotino, o Uno refere-se a Deus, dado que sua principal característica é a indivisibilidade. "É em virtude do Uno [unidade] que todas as coisas são coisas." (Plotino, Enéada VI, 9º tratado)

 

Nous

Nous, termo filosófico grego que não possui uma transcrição direta para a língua portuguesa, e que significa atividade do intelecto ou da razão em oposição aos sentidos materiais. Muitos autores atribuem como sinônimo a Nous os termos "Inteligência" ou "Pensamento".

O significado ambíguo do termo é resultado de sua constante apropriação por diversos filósofos, para denominar diferentes conceitos e ideias. Nous refere-se, dependendo do filósofo e do contexto, vezes a uma faculdade mental ou característica, outras vezes a uma correspondente qualidade do universo ou de Deus. Vejamos:

  • Homero usou o termo nous significando atividade mental em termos gerais, mas no período pré-Socrático o termo foi gradualmente atribuído ao saber e a razão, em contraste aos sentidos sensoriais.

  • Anaxágoras descreveu nous como a força motriz que formou o mundo a partir do caos original, iniciando o desenvolvimento do cosmo.

  • Platão definiu nous como a parte racional e imortal da alma. É o divino e atemporal pensamento no qual as grandes verdades e conclusões emergem imediatamente, sem necessidade de linguagem ou premissas preliminares.

  • Aristóteles associou nous ao intelecto, distinto de nossa percepção sensorial. Ele ainda o dividiu entre nous ativo e passivo. O passivo é afetado pelo conhecimento. O ativo é a eterna primeira causa de todas as subsequentes causas no mundo.

  • Plotino descreveu nous como sendo umas das emanações do ser divino.

 

Alma

Na Teosofia, a alma é associada ao 5º princípio do Homem, Manas, a Alma Humana ou Mente Divina. Manas é o elo entre o espírito (a díade Ātman-Budhi) e a matéria (os princípios inferiores do Homem). Assim, a constituição sétupla do Homem, aceita na Teosofia, adapta-se facilmente a um sistema com três elementos: Espírito, alma e corpo. Sendo a alma o elo entre o Espírito e o corpo do homem.

 

Matéria

Esta seria a última, mas não menos importante. A matéria, a parte concreta dessa teoria que explica a origem de tudo. Matéria é qualquer substância que ocupa lugar no espaço. Do latim, matéria (substância física), é qualquer coisa que possui massa. É tudo que tem volume, podendo se apresentar no estado sólido, líquido ou gasoso.

 

Principais ideias

Uno

Plotino ensinou que existe um ser supremo, totalmente transcendente o "Um"; além de todas as categorias do ser e não-ser. Seu "Um" "não pode ser qualquer coisa existente", nem é simplesmente a soma de todas as coisas [comparado a doutrina dos estoicos da descrença na não-existência material], mas "é antes de tudo existente". Plotino identificou seu "Um" com o conceito de 'Bom' e o princípio da "Beleza". [I. 6.9]

 

O "Um" engloba o pensador e o objeto. Até mesmo a inteligência auto-contemplante (a noesis do nous) deve conter dualidade. "Depois de ter chegado no 'Bem', não adicione nenhum pensamento a mais: em qualquer adição, e em proporção daquela adição, você adiciona uma deficiência." [III.8.11] Plotino nega a senciência, consciência de si – ou qualquer outra ação (ergon) para o "Um" [V. 6.6]. Em vez disso, se nós insistimos em descrevê-lo ainda mais, nós temos que chamar a uma pura potencialidade (dynamis) ou sem a qual nada poderia existir. [III.8.10] Como Plotino explica em ambos os lugares e em outros lugares [e.g. V. 6.3]. Em [V. 6.4], Plotino compara o Um a "luz", o Divino Nous (primeiro em direção ao Bom) para o "Sol", e, finalmente, a Alma para a "Lua", cuja luz é apenas um "derivado conglomerado de luz a partir do 'Sol'". A primeira luz poderia existir sem qualquer corpo celeste.

 

Além de todos os atributos do Um, incluindo o ser e o não-ser, dele vem a origem do mundo. Plotino defende que o múltiplo não pode existir sem o simples. O "menos perfeito" deve, necessariamente, "emanar" de "perfeito" ou "mais perfeito". Assim, toda "criação" emana dos estágios de menor e menor perfeição. Estas etapas não são isoladas temporariamente, mas ocorrem ao longo do tempo como um processo constante. Mais tarde os filósofos neoplatônicos, especialmente Jâmblico, acrescentaram centenas de seres intermediários como emanações entre o Um e a humanidade; mas o sistema de Plotino era muito mais simples em comparação.

O Um não é apenas um conceito intelectual, mas algo que pode ser experimentado, uma experiência onde um vai para além de toda multiplicidade. Plotino escreve, "Não devemos mesmo dizer que ele vai ver, mas ele vai ser aquilo que ele vê, se, de fato for possível distinguir entre vidente e visto, e não audaciosamente afirmar que os dois são um só."

 

Emanação do Um

Plotino parece oferecer uma alternativa para a ideia da ortodoxia cristã, a ideia de uma criação ex nihilo (do nada), apesar de Plotino nunca mencionar o cristianismo em qualquer de suas obras. A metafísica da Emanação, no entanto, assim como a metafísica da Criação, confirma a absoluta transcendência do Um ou do Divino, como a fonte de Ser de todas as coisas que ainda permanecem transcendentes dele em sua própria natureza; O Um não é de modo algum afetado ou diminuído por essas emanações, assim como o Deus cristão de nenhuma maneira é afetado por "nada" exterior. Plotino, usando uma analogia venerável que se tornaria crucial para a metafísica (em grande parte neoplatônica), compara o Um ao Sol, que emana a luz indiscriminadamente, sem diminuir a si mesmo, ou a reflexão de um espelho que de modo algum diminui ou altera a maneira do objeto sendo refletido.

 

A primeira emanação é Nous (Mente Divina, Logos, Ordem, Pensamento, Razão), identificado metaforicamente com o Demiurgo de Platão Timeo. Ele é a primeira Vontade para o bem. A partir de Nous procede o Mundo da Alma, Plotino subdivide-se em superior e inferior, identificando o aspecto inferior da Alma com a natureza. A partir do mundo a alma continua como almas humanas individuais, e, por último, a matéria, no nível mais baixo do ser e, portanto, o nível menos aperfeiçoado do Cosmos. Apesar dessa avaliação do mundo material, Plotino afirmou a, em última análise, a natureza divina da criação material, pois, em última análise, deriva do Um, através de médios do nous e da alma mundial. É pelo bem ou por meio de beleza que devemos reconhecer o Uno, por conseguinte em coisas materiais e, em seguida, em Formulários.

 

Essencialmente a natureza devocional de Plotino " filosofia pode ser evidenciado por seu conceito de alcançar o êxtase da união com o Um (henosis). Porfírio, relaciona-se que Plotino alcançou tal união de quatro vezes, durante os anos que ele o conhecia. Isso pode estar relacionado à iluminação, libertação, e outros conceitos de união mística.

 

A felicidade humana

A natureza humana a busca da felicidade, a autêntica felicidade humana consiste do verdadeiro humano identificando-se com o que é melhor no universo. Porque a felicidade está além de qualquer coisa física, Plotino salienta o ponto em que a fortuna não controla a verdadeira felicidade humana, e, portanto, " ... não existe nenhum ser humano que não tenha potencialmente ou efetivamente essa coisa que temos para constituir a felicidade." (Eneadas I. 4.4) A questão da felicidade de Plotino foi uma das maiores impressões no pensamento ocidental, ele é um dos primeiros a introduzir a ideia de que a eudaimonia (felicidade) é atingível apenas dentro da consciência.

 

O verdadeiro ser humano é um contemplativo incorporal da capacidade da alma, e superior a todas as coisas corpóreas. Em seguida, ele segue que a verdadeira felicidade humana é independente do mundo físico. A verdadeira felicidade é, em vez disso, dependente da metafísica e o ser humano autêntico encontrado este na maior capacidade da Razão. "Para o homem, e especialmente o proficiente, não é o a união da alma e do corpo: a prova é que o homem pode ser desengatado do corpo e desdém os seus valores nominais de bens." (Eneadas I. 4.14) O ser humano que tem alcançado a felicidade não será incomodado por motivo de doença, desconforto, etc., como seu foco é sobre as melhores coisas. A autêntica felicidade humana é a utilização da mais autentica capacidade humana de contemplação. Mesmo na ação física diária, o ato de florescimento humano "... é determinado pela etapa superior da alma." (Eneadas III.4.6) Mesmo nos mais dramáticos argumentos, Plotino considera (se o proficiente está sujeito a extremos de tortura física, por exemplo), ele conclui que isso só fortalece a sua alegação de a verdadeira felicidade de ser metafísica, como o ser humano verdadeiramente feliz iria entender que o que está sendo torturado é apenas um mero corpo, e não o eu consciente, e a felicidade pode persistir.

 

Plotino oferece uma descrição detalhada de sua concepção de uma pessoa que atingiu eudaimonia. "A vida perfeita envolve um homem que comanda a razão e a contemplação" (Eneadas I. 4.4). Uma pessoa feliz, não vai oscilação entre feliz e triste, como muitos de Plotino contemporâneos acreditavam. Para os estoicos, por exemplo, a questão da capacidade de alguém para ser feliz (pressupondo a felicidade é a contemplação) se eles são mentalmente incapazes ou até mesmo dormindo. Plotino ignora esta afirmação, como a alma e o verdadeiro não dormir ou até mesmo existir no tempo, nem um humano vivo que tenha alcançado eudaimonia, de repente, parar de usar a sua maior e mais autêntica capacidade de apenas porque o corpo desconforto no reino físico. "...O proficiente é definido sempre e somente dentro." (Eneadas I. 4.11)

 

Frases

  • A alma só é bela pela inteligência, e as outras coisas, tanto nas ações como nas intenções, só são belas pela alma que lhes dá a forma da beleza.

  • Três coisas conduzem a Deus: A música, o amor e a filosofia.

  • Os olhos não veriam o sol se não fossem parecidos com o sol e a alma não verá a beleza se ela não for bela.

  • Tudo é símbolo. E sábio é quem lê em tudo.

  • A beleza e o bem devem ser buscados no mesmo caminho.

  • Ensinar é indicar o caminho, mas na viagem cada um vai ver o que quiser ver.

  • A natureza não tem mãos para fabricar as mãos.

  • Morrer é mudar de corpo como os atores mudam de roupa.

  • Esforço-me para reunir o que há de divino em mim com o que há de Divino no Universo.

  • Nunca faças ninguém verter lágrimas: um Deus vingador conta todas as gotas.

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