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FILOSOFIA MODERNA

 

A filosofia moderna começa no século XV quando tem início a Idade Moderna. Ela permanece até o século XVIII, com a chegada da Idade Contemporânea.

 

Baseada na experimentação, a filosofia moderna vem questionar valores relacionados com os seres humanos bem como sua relação com a natureza. O racionalismo e o empirismo demostram essa mudança. O primeiro está associado a razão humana (considerada uma extensão do poder divino), e o segundo está baseado na experiência.

 

Contexto Histórico

O final de Idade Média esteve calcado no conceito de teocentrismo (Deus no centro do mundo) e no sistema feudal, que terminou com o advento da Idade Moderna. Essa fase reúne diversas descobertas científicas (nos campos da astronomia, ciências naturais, matemática, física, etc.) o que deu lugar ao pensamento antropocêntrico (homem no centro do mundo).

 

Assim, esse período esteve marcado pela revolução do pensamento filosófico e científico. Isso porque deixou de lado as explicações religiosas da época medieval e criou novos métodos de investigação científica. Foi dessa maneira que o poder da Igreja Católica foi enfraquecendo cada vez mais.

 

Nesse momento, o humanismo tem um papel centralizador oferecendo uma posição mais ativa do ser humano na sociedade. Ou seja, com um ser pensante e com maior liberdade de escolha. Diversas transformações ocorreram no pensamento europeu da época, dos quais se destacam:

  • a passagem do feudalismo para o capitalismo;

  • o surgimento da burguesia;

  • a formação dos estados nacionais modernos;

  • o absolutismo;

  • o mercantilismo;

  • a reforma protestante;

  • as grandes navegações;

  • a invenção da imprensa;

  • a descoberta do novo mundo;

  • o início do movimento renascentista.

 

Principais Características

As principais características da filosofia moderna estão pautadas nos seguintes conceitos:

  • Antropocentrismo e Humanismo

  • Cientificismo

  • Valorização da natureza

  • Racionalismo (razão)

  • Empirismo (experiências)

  • Liberdade e idealismo

  • Renascimento e iluminismo

  • Filosofia laica (não religiosa)

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Âncora 6

MARTINHO LUTERO (1483 – 1546)

Nascido em Eisleben, Alemanha, a 10 de novembro de 1483, Lutero era filho de camponeses católicos alemães. Foi um monge agostiniano e professor de teologia germânico e tornou-se uma das figuras centrais da Reforma Protestante. Levantou-se veementemente contra os dogmas do catolicismo romano, contestando sobretudo a doutrina de que o perdão de Deus poderia ser adquirido pelo comércio das indulgências. Essa discordância inicial resultou na publicação de suas “95 Teses”, em 1517 e, consequentemente, sua excomunhão da Igreja Romana e condenação pelo Imperador Carlos V, após sua recusa em se retratar de seus escritos.

Lutero propôs, com base em sua interpretação das Sagradas Escrituras, especialmente da Epístola de Paulo aos Romanos, que a salvação não poderia ser alcançada pelas boas obras ou por quaisquer méritos humanos, mas tão somente pela fé em Cristo Jesus (sola fide), único salvador dos homens, sendo gratuitamente oferecida por Deus aos homens. Sua teologia desafiou a infalibilidade papal em termos doutrinários, pois defendia que apenas as Escrituras (sola scriptura) seriam fonte confiável de conhecimento da verdade revelada por Deus. Opôs-se ao sacerdotalismo romano (isto é, à consagrada divisão católica entre clérigos e leigos), por considerar todos os cristãos batizados como sacerdotes e santos. Aqueles que se identificaram com os ensinamentos de Lutero acabaram sendo chamados de luteranos.

 

Nascimento e educação

Como era comum na época, foi alvo de uma disciplina rígida. O menino Lutero aprendeu, entre outras coisas, a orar aos santos, realizar boas obras e reverenciar o papa e a igreja. Cedo, aos 5 anos, Lutero começou a estudar latim em uma escola local. Já aos 12 anos, foi aluno de uma escola de uma irmandade religiosa em Magdeburgo. Em 1505 recebeu grau de Mestre em Artes da Universidade de Erfurt, e em 1505 e começou a estudar Direito.

 

Pouco tempo após iniciar seus estudos de Direito, Lutero resolveu tornar-se monge e entrou no Mosteiro Agostiniano de Erfurt. A sua ordenação foi em 1507. Em seguida, deixou o Mosteiro para ensinar filosofia moral na Universidade de Wittenberg.

 

Continuando seus estudos, Lutero obteve o título de Doutor em Teologia. De 1513 a 1518, ensinou Teologia Bíblica na Universidade de Wittenberg. Nessa época, começou a tornar-se bastante conhecido. Após certa idade, Lutero começou a ser afligido por uma angústia que pode ser sintetizada em uma pergunta: se o coração da pessoa é governado pelo pecado, como pode esperar salvação diante de Deus? Por causa do que havia aprendido, procurou resposta – e paz – através de boas obras, incluindo jejuns e autoflagelação. Contudo, seu sentimento de incapacidade para sentir paz diante de Deus continuou, o levando às portas do desespero. Este sentido de dúvida o acompanhava sempre. Experimentava crises de depressão constantes e se considerava um pecador incorrigível, mesmo depois de entregar-se à vida religiosa. Era um sujeito dado à música e tocava Alaúde na universidade.

 

A aflição de Lutero somente encontrou resposta no dia em que encontrou na Bíblia a certeza de que não há como alguém merecer o favor de Deus por causa de alguma coisa que faz; que a única forma de alguém obter o favor Deus é através da fé em Jesus Cristo; que é através da fé em Jesus que os pecados são perdoados por Deus. Este entendimento, conhecido como a doutrina da justificação pela fé, tornou-se um dos pilares do pensamento religioso de Lutero.

 

Crítica às Indulgências

A Igreja Romana da época costumava dizer que algumas pessoas possuíam mais méritos do que tinham necessidade para serem salvas. Por isso, o “mérito extra” dessas pessoas poderia ser transferido – especialmente através de pagamento – para pessoas cuja salvação era duvidosa. Lutero protestou contra esta prática, chamada de indulgência. Em 31 de outubro de 1517, Lutero afixou uma série de críticas – que se tornaram conhecidas como 95 Teses – na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. As Teses eram um protesto contra o abuso da autoridade do Papa, especialmente no sentido de desafiar o Papa a esvaziar de graça o purgatório, já que diz controlá-lo. Lutero também negou o ensino do “mérito extra” que estava por trás das indulgências. Segundo Lutero, o verdadeiro tesouro da Igreja é o Evangelho – a proclamação do amor de Deus. A Igreja Romana ordenou que Lutero se apresentasse em Roma para responder às acusações de heresia. Sabendo do caso, o Príncipe da Saxônia, Frederico o Sábio, interveio e insistiu que a audiência de Lutero fosse realizada em solo alemão. Como resultado, uma Dieta Imperial foi realizada na cidade de Augsburgo, em 1518. Lutero se recusou a mudar de opinião. Temendo ser preso, fugiu de Augsburgo. As ideias de Lutero logo encontraram adeptos em todas as regiões da Alemanha, e mesmo fora dela. A resposta do Papa à situação foi uma bula (ordem papal), ameaçando Lutero de excomunhão, caso não se retratasse. Em protesto, ele queimou publicamente a bula e foi excomungado em janeiro de 1521. Em junho de 1525, Lutero casou-se com Catarina de Bora, uma ex-freira. Os dois tiveram seis filhos e abrigaram onze órfãos. Lutero publicou cerca de 400 obras durante a sua vida, incluindo comentários bíblicos, catecismos, sermões e tratados. Também escreveu hinos para a Igreja. Parte de suas obras estão publicadas em diversas línguas modernas.

 

As reformas que Lutero propunha não se referiam apenas a questões doutrinárias, mas também aos abusos eclesiásticos:

  • A diminuição do número de cardeais e outras exigências da corte papal;

  • A abolição das rendas do Papa;

  • O reconhecimento do governo secular;

  • A renúncia da exigência papal pelo poder temporal;

  • A abolição dos Interditos (um tipo de censura eclesiástica que proíbe certas pessoas ou grupos da igreja de participarem de certos ritos) e abusos relacionados com a excomunhão;

  • A abolição das peregrinações nocivas;

  • A eliminação dos excessivos dias santos;

  • A supressão dos conventos para monjas, da mendicidade e da suntuosidade; a reforma das universidades;

  • A ab-rogação do celibato do clero;

  • E, finalmente, uma reforma geral na moralidade pública.

 

Muitas destas propostas refletiam os interesses da nobreza alemã, revoltada com sua submissão ao Papa e, principalmente, com o fato de terem que enviar riquezas a Roma.

 

 

Suas obras

Foi o autor de uma das primeiras traduções da Bíblia para alemão, algo que não era permitido até então sem especial autorização eclesiástica. Lutero, contudo, não foi o primeiro tradutor da Bíblia para alemão. Já havia várias traduções mais antigas. A tradução de Lutero, no entanto, suplantou as anteriores porque foi uma forma unificada do Hochdeutsch (dialetos alemães da região central e sul) e foi amplamente divulgada em decorrência da sua difusão por meio da imprensa, desenvolvida por Gutenberg, em 1453. A tradução de Lutero para o alemão foi simultaneamente um ato de desobediência e um pilar da sistematização do que viria a ser a língua alemã, até aí vista como uma língua inferior, dos servos e ignorantes. É preciso adicionar que Lutero não se opunha ao latim, e chegou mesmo a publicar uma edição revisada da tradução latina da Bíblia (Vulgata). Lutero escrevia tanto em latim como em alemão. A tradução da Bíblia para o alemão não significou, portanto, rejeição do latim como língua acadêmica.

 

As “95 Teses” de Martinho Lutero, escritas em 1517, são o marco inicial do movimento de renovação da Igreja Cristã. Convidar pessoas para debater “teses” era modo costumeiro de se anunciar “disputas” ou “justa teológica” entre os doutores na Europa medieval, envolvendo professores e estudantes, até mesmo os que não pudessem comparecer, poderiam responder às “disputas” (Teses) enviando suas opiniões por escrito para serem lidas. Teses eram os “pontos a serem debatidos” em uma plenária de doutores (disputa e ato público) e Lutero tornou públicas as suas Teses – 95 pontos em que discordava da teologia católica – principalmente as controversas vendas de perdão ou indulgências, além das práticas e doutrinas somadas à corrupção de determinados setores do clero, vistas como ameaças à credibilidade da fé e da Igreja. Vejamos algumas teses:

 

1. Quando o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo disse: ‘Arrependei-vos!’ Ele quis que toda a vida dos crentes fosse um só arrependimento.

27. Pregam futilidades humanas quantos afirmam que, tão logo a moeda tinir na caixa, a alma se eleva do purgatório.

32. Serão eternamente condenados juntamente com seus mestres, aqueles que julgam obter certeza da salvação mediante cartas de indulgência.

36. Todo e qualquer cristão verdadeiramente compungido tem pleno perdão da pena e da culpa, o qual lhe pertence mesmo sem carta de indulgência.

50. Deve-se ensinar os cristãos que, se o Papa tivesse conhecimento das extorsões dos pregadores de indulgência, preferiria ver a catedral de São Pedro ser reduzida a cinzas, a ser edificada com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.

62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.

94. Admoestem-se os cristãos a que se empenhem em seguir seu cabeça, Cristo, através de padecimento, morte e inferno.

95. E assim esperem mais entrar no reino dos céus através de muitas tribulações do que facilitados mediante consolações infundadas.

 

Em 1502 vieram a lume as primeiras importantes obras da Reforma: 1) “Do Cativeiro Babilônico da Igreja”; 2) “Da Liberdade Cristã”; 3) “A Sua Majestade Imperial e à Nobreza Cristã na Alemanha, Sobre a Renovação da Vida Cristã”; 4) “Sermão sobre as Boas Obras”. Seguem alguns pensamentos:

 

“O cristão é um livre senhor de todas as coisas e não submisso a ninguém – pela fé.

O cristão é um servidor de todas as coisas e submisso a todos – pelo amor.

As boas obras não fazem um bom cristão, mas um bom cristão faz boas obras.”

 

Os últimos anos

Em seus últimos anos, Lutero mostrou-se radical em suas propostas contrárias aos judeus alemães, tendo sido inclusive considerado posteriormente um antissemita. Essas e outras de suas afirmações fizeram de Lutero uma figura bastante controversa entre muitos historiadores e estudiosos. Além disso, muito do que foi escrito a seu respeito sofre da reconhecida parcialidade resultante de paixões religiosas.

 

Lutero faleceu de derrame cerebral em 18 de fevereiro de 1546, aos 63 anos de idade, em sua cidade Natal, Eisleben. Seu corpo foi sepultado na Igreja do Castelo de Wittenberg, onde, cerca de 30 anos antes, havia afixado suas 95 Teses. Foi esta sua última oração:

 

“Meu amado Pai celestial, Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Deus de toda consolação, agradeço-te por me teres revelado teu amado Filho Jesus Cristo, no qual tenho fé, o qual foi por mim pregado e testemunhado, ao qual amei e rendi louvores. Rogo-te, meu Senhor Jesus Cristo, toma sob teus cuidados minha pobre alma. Oh! Pai celestial, se bem que devo deixar este corpo e ser arrebatado desta vida, sei com certeza que eternamente poderei ficar contigo e ninguém poderá arrebatar-me de tuas mãos. Amém.

 

Frases de Martinho Lutero:

  • Deve-se doar com a alma livre, simples, apenas por amor, espontaneamente!

  • Todo o pecado é um tipo de mentira.

  • A paz, se possível, mas a verdade, a qualquer preço.

  • Os que amam profundamente, jamais envelhecem; podem morrer de velhice, mas morrem jovens. O amor é a imagem de Deus, mas não uma imagem da vida. É, isto sim, a verdadeira essência de toda a natureza divina.

  • A mentira é como uma bola de neve; quanto mais rola, tanto mais aumenta.

  • O cristão vive não em si mesmo, mas em Cristo e no próximo. De outro modo, ele não será um cristão.

  • As boas obras não tornam bom o homem, mas o homem bom pratica boas obras. As obras más não tornam mau o homem, mas o homem mau pratica obras más.

  • Deus cria a partir do nada. Portanto, enquanto um homem não for nada, Deus nada poderá fazer com ele.

  • A oração é o suor da alma.

  • Ensinamos melhor aquilo que precisamos aprender.

  • A graça é uma qualidade que dá ao homem a força de executar as exigências da lei.

  • Mente vazia é oficina do diabo.

  • Fé é uma firme confiança nas promessas de Deus, que por elas eu morreria mil vezes.

  • Uma mentira é como bola de neve; quanto mais rola, maior se torna.

  • A humildade dos hipócritas é o maior e o mais altaneiro dos orgulhos.

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Âncora 1

PARACELSO (1493 – 1541)

 

Paracelso, pseudônimo de Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, foi um médico, alquimista, físico, astrólogo e ocultista suíço-alemão. A ele também é creditado a criação do nome do elemento zinco, chamando-o de zincum.

Seu pseudônimo significa "superior a Celso (médico romano)". No estudo de sua biografia, fato tem sido gradualmente separado da crença, mas nenhum acordo foi alcançado no que respeita à natureza e sentido de seu ensino. Ele é considerado por muitos como um reformador do medicamento. Também é aclamado por suas realizações em Química e como fundador da Bioquímica e da Toxicologia.

 

Ele aparece entre cientistas e reformadores como Andreas Vesalius, Nicolau Copérnico e Georgius Agricola, e, portanto, é visto como um pensador e cientista moderno. Por outro lado, sempre possuiu uma aura de místico e até mesmo a obscura reputação de mago.

 

Paracelso nasceu em Einsiedeln, na Suíça, em 17 de dezembro de 1493. Seu pai era suábio (originário da região da Suábia, no sudoeste da Alemanha) e sua mãe era suíça. Na infância, foi educado pelo seu pai, que também era alquimista e médico. Acompanhava-o nas caminhadas pelas montanhas e povoados, observando a manipulação de medicamentos. Aprendeu a gostar das plantas e ervas silvestres. Foi educado na Áustria e quando jovem trabalhou em minas como analista.

 

Paracelso, quando jovem, já instruído pelo pai, ao qual considerava além de instrutor, foi enviado aos cuidados dos monges do mosteiro de Santo André, na Saboia. Lá ele aprendeu sob a tutela dos monges e dos bispos Mathias Scheyd, de Rottgac, e Mathias Schacht, de Freisingen e, especialmente de Eberhardt Baumgartner, tido como um dos alquimistas mais notáveis da época. Tendo concluído os estudos, e já no seu décimo sexto ano de permanência no mosteiro, ele foi enviado à Universidade de Basel e logo a seguir, foi instruído pelo abade de St. Jacob (Spanheim), em Wurzburg, um dos grandes e célebres intelectuais da época, de nome Johann Trithemius.

 

Foi educado na Áustria e quando adolescente trabalhou no laboratório e nas minas do judeu Sigismund Fugger, em Schwatz, no Tirol, que, como Trithemius, foi também um grande alquimista. Lá Paracelso trabalhou como analista. Formou-se em medicina na Universidade de Viena em 1510, com dezessete anos de idade. Especula-se que ele tenha feito o seu doutorado na Universidade de Ferrara, em 1515 ou 1516.

 

Viajou para vários lugares do mundo, em busca de novos conhecimentos médicos, insatisfeito com o ensino tradicional que recebeu na academia. Foi para a Hungria, e Polônia, procurando alquimistas de quem pudesse aprender algo.

 

No retorno de Paracelso à Europa, seus conhecimentos em tratamentos médicos tornaram-no famoso. Ele não seguia os tratamentos convencionais para feridas, que consistiam em derramar óleo fervente sobre elas; se as feridas estivessem em um membro (braço ou perna), esperava-se que elas ficassem em gangrena para então amputar o membro afetado. Paracelso acreditava que as feridas se curariam sozinhas se o pus fosse evacuado e a infecção fosse evitada.

 

Ele rejeitava as tradições gnósticas, mas manteve muitas das filosofias do Hermetismo, do neoplatonismo e de Pitágoras; de qualquer modo, a ciência Hermética tinha tantas teorias aristotélicas que a sua rejeição do Gnosticismo era praticamente sem sentido. Em particular, Paracelso rejeitava as teorias mágicas de Agrippa (Agrippa fora um dos outros discípulos de Trithemius) e Flamel. Ele não se achava um mago e desprezava aqueles que achavam que fosse.

 

Paracelso foi um astrólogo, assim como muitos (se não todos) dos físicos europeus da época. A Astrologia foi uma parte muito importante da Medicina de Paracelso. Em um de seus livros, ele reservou várias secções para explicar o uso de talismãs astrológicos na cura de doenças. Criou e produziu talismãs para várias enfermidades, assim como talismãs para cada signo do Zodíaco. Ele também inventou um alfabeto chamado "Alfabeto dos Reis Magos" e esculpiu nos talismãs nomes angelicais.

 

Visão e doutrina

A distinta natureza da filosofia de Paracelso é consequência da visão cosmológica, teológica, filosofia natural e medicina à luz de analogias e correspondências entre macrocosmos e microcosmos. As especulações acerca dessas analogias tinham seriamente empenhado a mente humana desde o tempo pré-Socrático e Platônico e durante toda a Idade Média. Paracelso foi o primeiro a aplicar essas especulações para o conhecimento da natureza sistemática.

 

Isso, associado com a singular posição que ele assume no que diz respeito à teoria e à prática de aquisição de conhecimentos em geral, rompeu longe do ordinário lógico, antigo e medieval e moderno, seguindo as suas próprias linhas, e é nisto que muito do seu trabalho naturalista encontra explicação e motivação.

 

Segundo Paracelso, se o homem, o clímax da criação, une em si mesmo todos os componentes do mundo em torno dele como minerais, plantas, animais e corpos celestes, ele pode adquirir conhecimento da natureza de modo muito mais direto e intuitiva, do que a forma externa de consideração dos objetos pela mente racional. O que é necessário é um ato de atração simpática entre o interior representativo de um determinado objeto, na própria constituição do homem e o seu homólogo externo. A união com o objeto é então o soberano meio de adquirir conhecimento íntimo e total. Esta não é alcançada pelo cérebro, a sede da mente racional. E é num nível mais profundo, à pessoa como um todo, que é dado o conhecimento. É o seu corpo astral (perispiritual) que ensina o homem. Por meio do seu corpo astral o homem comunica com a supraelementrariedade do mundo espiritual ou astral. Astrum é o contexto que denota não só o corpo celestial, mas a virtude ou atividade essencial de qualquer objeto. Isto, no entanto, não é atingido num estado racional de pensamento, mas sim em sonhos e transes fortificados por força de vontade e imaginação.

 

O que parece ser original em Paracelso, então, não é a teoria microcósmica em si mesma, nem a busca da união com o objeto, mas o emprego consistente desses conceitos como a ampla base de um elaborado sistema de correspondências na filosofia e medicina natural.

 

A morte

Voltou para Salzburg em 1540, convidado pelo bispo da cidade. Morreu em 24 de setembro de 1541 com apenas 47 anos, em um hospital, sonhando ter fabricado o Elixir da Vida. A causa de sua morte não foi esclarecida. Uma hipótese é que teria sido assassinado em 1541, como foi evidenciado na exumação de seus ossos, que mostrou uma fratura no crânio. O corpo foi velado na igreja de São Sebastião e, de acordo com o seu último desejo, foram entoados os salmos bíblicos 1, 7 e 30.

 

A fama de Paracelso aumentou com as suas curas milagrosas e, após sua morte, a sua fama cresceu ainda mais. Um século depois, centenas de textos paracelsianos foram publicados, referindo-se quase todos a medicamentos químicos. No final do século XVI, existia já uma imensa literatura sobre a nova matéria médica. Devido ao facto de a abordagem médica de Paracelso diferir tanto daquilo que era aceitável até então, estabeleceu-se uma enorme confrontação entre os paracelsianos e o sistema médico oficial em vigor até então – confrontação aguçada pelo impacto provocado pelos humanistas, que desdenhavam das obras de Dioscorides e de Plínio, ambos muito populares no final da Idade Média, e enalteciam trabalhos menos conhecidos, especialmente os tratados de fisiologia e anatomia de Galeno. Muitos médicos seguidores de Paracelso eram alemães; na França, a confrontação foi mais agravada pelo facto de muitos médicos paracelsianos serem huguenotes (protestantes, partidários de Calvino); na Inglaterra, tal confrontação foi menos tempestuosa, tendo sido adotados os medicamentos químicos, que eram utilizados simultaneamente com medicamentos tradicionais galênicos.

 

Obras

- A Chave da Alquimia

- As Plantas Mágicas

 

Frases de Paracelso:

  • O que Deus quer são nossos corações e não as cerimônias, já que com elas a fé nele perece. Se queremos buscar a Deus, devemos buscá-lo dentro de nós mesmos, pois fora de nós jamais o encontraremos.

  • Todos são interligados. O céu e a terra, ar e água. Todos são, uma só coisa; não quatro, e não duas, e não três, mas um. Se não estiverem juntos, há apenas uma peça incompleta.

  • A medicina se fundamenta na natureza, a natureza é a medicina, e somente naquela devem os homens buscá-la. A natureza é o mestre do médico, já que ela é mais antiga do que ele e ela existe dentro e fora do homem.

  • Só a dose faz o veneno.

  • A natureza é a causa e a cura das doenças.

  • O poder de uma vívida imaginação é o principal componente de cada operação de magia.

  • Ter calma e uma alma forte, limpa e sincera, assim tudo sairá bem. Não se sentir só nem débil, porque detrás de cada pessoa há exércitos poderosos que não podemos conceber nem sequer sonhar. Quando se eleva o pensamento, não há mal que possa alcançar. O único inimigo que se deve temer é a nós mesmos.

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Âncora 5

JOÃO DA CRUZ (1542 – 1591)

Foi um místico, sacerdote e frade carmelita espanhol venerado como santo pelos católicos. Nascido em Fontiveros, Ávila, Espanha, em Castela a Velha, foi um dos mais importantes expoentes da Contrarreforma.

 

Grande reformador da Ordem Carmelita, é considerado, juntamente com Santa Teresa de Ávila, o fundador dos Carmelitas Descalços. João também é conhecido por suas obras literárias e tanto sua poesia quanto suas investigações sobre o crescimento da alma são consideradas o ápice da literatura mística e se destacam entre as grandes obras da literatura espanhola.

 

João da Cruz nasceu com o nome de Juan de Yepes y Álvarez numa família de conversos (descendentes de muçulmanos ou judeus convertidos ao cristianismo). Seu pai, Gonzalo, trabalhava como contador para parentes mais ricos que trabalhavam no comércio da seda. Porém, em 1529, depois de se casar com Catalina, uma órfã de classe inferior, Gonzalo foi rejeitado pela família e acabou sendo forçado a trabalhar com a esposa como tecelão. Ele morreu em 1545, quando João tinha por volta de sete anos. Dois anos depois, o irmão mais velho de João, Luís, morreu, provavelmente por má nutrição resultado da penúria em que vivia a família depois da morte do principal provedor. Depois disso, Catalina mudou-se com João e Francisco, seu outro filho ainda vivo, para Arévalo em 1548 e, três anos depois, para Medina del Campo, onde finalmente conseguiu um emprego como tecelã.

 

Em Medina, João entrou numa escola para cerca de 160 crianças pobres – geralmente órfãos – e recebeu uma educação básica, principalmente a doutrina cristã, além de alguma comida, roupas e um lugar para viver. Lá, foi escolhido para servir como acólito num mosteiro vizinho de freiras agostinianas. Nos anos seguintes, João trabalhou no hospital e estudou humanidades na escola jesuíta entre 1559 e 1563; a Companhia de Jesus era uma organização recém-criada na época, fundada apenas alguns anos antes por Santo Inácio de Loyola. Em 1563, João entrou para a Ordem Carmelita e adotou o nome de "João de São Matias".

 

No ano seguinte (1564), professou seus votos como carmelita e viajou para Salamanca, onde estudou teologia e filosofia na prestigiosa universidade da cidade (na época, uma das quatro grandes da Europa, juntamente com Paris, Oxford e Bolonha) e no Colégio de San Andrés. A estadia teria poderosa influência sobre suas obras posteriores, pois lecionava ali Frei Luís de León (estudos bíblicos: exegese, hebraico e aramaico), um dos mais destacados estudiosos em seu campo e o autor de uma controversa tradução do Cântico dos Cânticos para o espanhol (na época, traduções da Bíblia para outras línguas eram proibidas na Espanha).

 

João foi ordenado sacerdote em 1567 e deixou clara sua intenção de juntar-se à estrita ordem dos cartuxos, que o atraía por encorajar a contemplação solitária e silenciosa. Uma viagem de Salamanca até Medina del Campo, provavelmente em setembro do mesmo ano, mudou seus planos. Em Medina, João encontrou-se com uma carismática freira carmelita chamada Teresa de Jesus, que estava na cidade para fundar seu segundo convento. Ela contou-lhe sobre seus projetos para reformar a Ordem Carmelita, que visavam purificá-la ao reintroduzir a observância da regra original, de 1209, que havia sido relaxada pelo papa Eugênio IV em 1432.

 

De acordo com ela, a maior parte do dia e da noite deveria ser dedicada à recitação da liturgia das horas, aos estudos e leituras devocionais, à celebração da missa e a períodos de contemplação solitária. Para os frades, haveria ainda um tempo dispendido na evangelização da população vizinha ao mosteiro. A abstinência completa de carne e longos períodos de jejum deveriam ser observados a partir da Festa da Exaltação da Cruz (14 de setembro) até a Páscoa. Haveria ainda longos períodos de silêncio, especialmente entre as completas e a prima. As roupas deveriam ser mais rústicas e mais simples do que as que passaram a ser utilizadas depois de 1432. Além disso, todos deveriam obedecer à injunção contra o uso de calçados (que também havia sido relaxada em 1432) e foi desta última observância que os seguidores de Teresa, entre os carmelitas, passaram a ser chamados de "descalços", distinguindo-os dos frades e freiras não reformados.

 

Teresa pediu a João que desistisse dos cartuxos para segui-la. Depois de um ano final estudando em Salamanca, em agosto de 1568 João viajou com Teresa de Medina para Valladolid, onde ela planejava fundar outro convento. Depois de passar algum tempo com Teresa ali, aprendendo mais sobre esta nova forma de vida carmelita, em outubro do mesmo ano, acompanhado pelo frade Antônio de Jesus de Heredia, João partiu para fundar um novo mosteiro para frades, o primeiro a seguir os princípios de Teresa. Eles receberam permissão para utilizar uma casa em ruínas em Duruelo (no meio do caminho entre Ávila e Salamanca), que havia sido doado a Teresa. Em 28 de novembro de 1568, o mosteiro foi finalmente inaugurado e, no mesmo dia, João mudou seu nome para "João da Cruz".

 

Logo depois, em junho de 1570, os frades se mudaram de sua sede em Duruelo, que estava pequena, para a cidade vizinha de Mancera de Abajo. Depois, João mudou-se novamente para fundar uma nova comunidade em Pastrana (outubro) e outra em Alcalá de Henares, que tornar-se-ia uma casa de estudos dedicada ao treinamento de seus frades. Em 1572, João foi para Ávila a convite de Teresa, que era na época prioresa do Mosteiro da Visitação na cidade, em 1571, e tornou-se o diretor espiritual e confessor dela, das 130 freiras que viviam no mosteiro e da população da cidade. Em 1574, João acompanhou Teresa quando numa viagem para fundar um novo mosteiro em Segóvia, retornando a Ávila em seguida. É provável que ele tenha permanecido ali até 1577.

 

Em algum momento entre 1574 e 1577, enquanto rezava numa cabana com vista para o santuário, João teve uma visão de Cristo crucificado que o levou a criar seu famoso desenho visto "de cima" (ou "do alto"). Em 1641, este desenho foi emoldurado em Ávila e, em 1951, inspirou o artista Salvador Dalí a pintar "Cristo de São João da Cruz".

 

Suas Obras

Suas obras foram publicadas pela primeira vez em 1618 por Diego de Salablanca. As divisões numéricas da obra, ainda utilizadas pelas edições modernas do texto, foram introduzidas por Salablanca (elas não existiam nos originais de João) para ajudar a tornar a obra mais manuseável para o leitor. Esta edição não traz o "Cântico Espiritual" e também omite ou adapta algumas passagens, provavelmente por medo de infringir alguma regra da Inquisição.

 

O "Cântico Espiritual" foi incluído pela primeira vez na edição de 1630, produzida pelo frade Jeronimo de San José, em Madri. Esta edição foi muito utilizada por editores posteriores e as dos séculos XVII e XVIII passaram a, gradualmente, incluir alguns poemas e cartas adicionais.

 

João da Cruz é amplamente considerado como um dos principais poetas da língua espanhola. Apesar de seus poemas contarem com menos de 2 500 versos, dois deles - o "Cântico Espiritual" e "A Noite Escura da Alma" - são considerados obras-primas da poesia espanhola, tanto do ponto de vista estilístico formal quanto por seu rico simbolismo. Suas obras teológicas são majoritariamente comentários sobre estes poemas. Todas as suas obras foram escritas entre 1578 e sua morte em 1591, o que resultou numa grande consistência de ideias apresentadas neles.

 

O "Cântico Espiritual" é uma écloga (poema ambientado na natureza, na forma de um diálogo entre pastores ou um monólogo) na qual a noiva (representando a alma) procura um noivo (representando Jesus) e está ansiosa por tê-lo perdido; ambos se regojizam ao se reencontrar. Ela pode ser vista como versão espanhola livre do Cântico dos Cânticos numa época que traduções da Bíblia para o vernáculo eram proibidas.

 

A "Noite Escura da Alma" (que depois emprestou seu nome ao termo cristão) narra a jornada da alma de sua casa corpórea até sua união com Deus. Ela acontece durante a noite, que representa as agruras e dificuldades que ela encontra ao se desprender do mundo e alcançar a luz da união com o Criador. A ideia principal do poema é a dolorosa experiência pela qual as pessoas passam em suas tentativas de amadurecer espiritualmente para unirem-se a Deus. O poema foi provavelmente escrito em 1578 ou 1579.

 

A "Ascensão do Monte Carmelo" é um estudo mais sistemático da empreitada asceta de uma alma buscando a união perfeita com Deus e dos eventos místicos que acontecem neste caminho. Embora o poema se inicie como um comentário sobre a "Noite Escura", rapidamente o formato muda. Ele foi composto em algum momento entre 1581 e 1585.

 

A "Chama Viva do Amor", descreve uma intimidade maior conforme a alma responde ao amor divino. Ele foi escrito numa primeira versão em Granada entre 1585 e 1586, aparentemente em apenas duas semanas e numa segunda versão quase idêntica em La Peñuela em 1591.

 

As obras de João juntamente com seu "Dichos de Luz y Amor" e as obras de Santa Teresa de Ávila são as mais importantes obras em espanhol e influenciaram profundamente os escritores espirituais posteriores no mundo todo. Entre eles, T. S. Eliot, Santa Teresinha do Menino Jesus, Edith Stein e Thomas Merton. João influenciou também filósofos como Jacques Maritain, teólogos como Hans Urs von Balthasar, pacifistas como Dorothy Day, Daniel Berrigan e Philip Berrigan e artistas como Salvador Dalí. A dissertação teológica de São João Paulo II versava sobre a teologia mística de São João da Cruz.

 

Influências intelectuais

Existe a possibilidade de João da Cruz ter sido influenciado por diversas linhas de pensamento. As principais são:

 

Escrituras

Em primeiro lugar, João foi claramente influenciado pela Bíblia. Imagens bíblicas são comuns tanto em seus poemas como em suas prosas – no total, há 1583 citações explícitas e 115 implícitas em sua obra. A influência do “Cântico dos Cânticos” sobre o "Cântico Espiritual" é frequentemente lembrada, tanto na estrutura do poema, como também na ação em si e nas imagens das frutas, a adega de vinho, a pomba e as flores. Além disso, João revela, em pontos específicos, a influência do Ofício Divino, onde, imbuído da linguagem e dos rituais da Igreja, usa frases e linguagem eclesiástica.

 

Estudos iniciais

João da Cruz esteve em Salamanca entre 1563 e 1567, vivendo no Colégio Carmelita de San Andrès e estudando na Universidade de Salamanca. Desta forma, certamente foi exposto às doutrinas de Miguel de Bolonha e João Baconthorpe, sendo este último o foco principal dos carmelitas espanhóis da época. Não há, porém, comprovação da influência de nenhum deles nas obras de João. Na Universidade de Salamanca, há um amplo consenso sobre as variadas influências intelectuais a que João pode ter sido exposto. Na época, havia ali cadeiras sobre Tomás de Aquino, Duns Escoto e Guillaume Durand. Assume-se geralmente que João estudou ali sobre o pensamento de Aquino, o que explica a influência dele na estrutura escolástica de suas obras.

 

Porém, argumenta-se que João teria abandonado seus estudos, pois em 1568, devido a sua junção com Teresa de Ávila, não se formou, indicando que ele não estudou em Salamanca.

 

Alega-se ainda, para se explicar a origem de seu pensamento místico, que ele frequentou um grupo de estudos especiais sobre escritores místicos, principalmente Pseudo-Dionísio e São Gregório Magno. Uma grande importância foi imputada a esta evidência por escritores subsequentes. Porém, outros duvidaram sem, contudo, negarem que João de fato possa ter estudado teologia mística na época. Raramente se discute que a estrutura geral da teologia mística de João e sua linguagem sobre a união da alma com Deus foi influenciada pela tradição pseudo-dionisiana. Porém, não é claro se João teve acesso direto às obras dele ou se esta influência se deu através de outros autores posteriores.

 

Resumindo, não existe consenso sobre os primeiros anos dos estudos de João e sobre o que influenciou seu pensamento. Embora haja uma lista de teólogos que certamente lecionaram no período em que ele esteve em Salamanca, as evidências não são suficientes para que se defina com certeza quem o influenciou.

 

Místicos medievais

Há também amplo consenso de que João tenha sido influenciado pelas obras de outros místicos medievais, embora haja muito debate sobre que doutrina exatamente teria influenciado suas obras e sobre como ele pode ter sido exposto às ideias deles, como, por exemplo, o misticismo alemão de Meister Eckhart, Johannes Tauler, Henrique Suso, João de Ruysbroeck e "A Imitação de Cristo" de Tomás de Kempis, bem como por Gregório de Níssa, Pseudo-Dionísio, Santo Agostinho, São Bernardo e a Escola de São Vítor.

 

Poesia secular espanhola

Um forte argumento também pode ser defendido para a tese que João teria sido influenciado pela literatura espanhola da época. João parece ter utilizado o formato dos versos de Garcilaso de la Veja (um poeta renascentista espanhol) em sua própria poesia, principalmente no "Cântico Espiritual", "Noite Escura" e "Chama Viva". Além das várias imagens bíblicas já citadas, os poemas de João revelam vários símbolos renascentistas de amor pastoral, como sereias, rouxinóis, ninfas, pombos e pastores.

 

Influência islâmica

Uma teoria possível - e controversa - sobre as origens das imagens místicas de João é que ele teria sido influenciado por fontes islâmicas.

 

Frases de São João da Cruz:

  • Deus é inacessível. Não repares, portanto, no que as tuas faculdades podem compreender, nem teus sentidos experimentar, para que não te satisfaças com menos e assim perderes a presteza necessária para chegar a ele.

  • Mesmo que realizes muitas coisas, não progredirás na perfeição, se não aprenderes a negar a tua vontade e a sujeitar-te, deixando a preocupação de ti próprio e das tuas coisas.

  • A mosca que pousa no mel não pode voar... ASSIM, a alma que fica presa ao sabor do prazer, sente-se impedida em sua liberdade e contemplação.

  • Quem se queixa ou murmura não é cristão perfeito... nem mesmo um bom cristão.

  • O amor não consiste em sentir grandes coisas, mas em despojar-se e sofrer pelo amado.

  • A pessoa que caminha com Deus e não afasta de si as preocupações, nem domina as suas paixões, caminha como quem empurra um carro encosta acima.

  • Parece-me que o segredo da vida consiste em aceitá-la tal como ela é.

  • No crepúsculo da vida, seremos julgados pelo amor.

  • A única linguagem que Deus ouve é o silêncio do amor... O silêncio não é o amor, mas um preâmbulo para o amor.

  • A medida que a noite se aproxima, faz-me de novo lembrar que a alma que caminha no amor, não descansa nem se cansa.

  • Até que aprendamos a esquecer e abrir mão das exigências de nossas paixões e aprendamos a disciplinar nossa memória e nossa imaginação, nosso coração estará destinado a ficar sempre em tumulto; nossa alma, nunca em paz.

  • Vivemos insatisfeitos com nós mesmos, indispostos com nosso próximo, preguiçosos em nosso relacionamento com Deus. Com nossa força espiritual enfraquecida, adoecemos.

  • Quando permitimos que nossas lembranças e nossa imaginação atravanquem nosso coração, resta pouco ou nenhum espaço para Deus.

  • Jamais desfrutaremos da suavidade pura da união com Deus enquanto nos satisfizermos com as consolações passageiras desta vida.

  • Precisamos nos mover do conhecido para o desconhecido, da luz do dia para a noite escura da fé.

  • Quando vemos com os olhos da fé, estamos vendo na escuridão.

  • Embora eu sofra a escuridão nesta vida mortal, isso não é algo tão difícil; porque, se me falta a luz, tenho a vida celestial. Pois, quanto mais cego é o amor, mais dessa vida ele proporciona conservando a alma em total abandono, vivendo sem luz na escuridão.

  • O amor é a inclinação, a força e a virtude de que a alma se serve para ir a Deus, pois é por meio dele que ela se une a Ele.

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Âncora 2

RENÉ DESCARTES (1596-1650)

 

Foi um filósofo e matemático francês. Criador do pensamento cartesiano, sistema filosófico que deu origem à Filosofia Moderna, ele é autor da obra “O Discurso sobre o Método”, um tratado filosófico e matemático publicado na França em 1637. Uma das mais famosas frases do seu Discurso é “Penso, logo existo”.

 

René Descartes nasceu em Haye, antiga província de Touraine (hoje Descartes), na França, em 31 de março de 1596. Entre os anos de 1607 e 1615, estudou no colégio jesuíta Royal Henry – Le Grand, estabelecido no castelo de La Fleche, doado aos jesuítas pelo rei Henrique IV.

 

Estudou Direito na Universidade de Poitiers, concluindo o curso em 1616, mas nunca exerceu o Direito. Decepcionado com o ensino, afirmou que a filosofia escolástica não conduz a nenhuma verdade indiscutível. Só a matemática demonstra aquilo que afirma.

 

Em 1618 iniciou os estudos da matemática com o cientista holandês Isaac Beeckman. Com 22 anos começou a formular sua geometria analítica e seu método de raciocinar corretamente. Rompeu com a filosofia de Aristóteles, adotada nas academias e, em 1619, propõe uma ciência unitária e universal, lançando as bases do método científico moderno.

 

Descartes alistou-se no exército do príncipe Maurício de Nassau. Entre 1629 e 1649 viveu na Holanda, servindo ao exército em várias viagens.

 

Realizou diversos trabalhos na área da filosofia, ciências e matemática. Relacionou a álgebra com a geometria, fato que fez surgir a geometria analítica e o sistema de coordenadas, conhecido hoje como Plano Cartesiano.

 

Em “O Tratado do Mundo”, uma obra de física, Descartes aborda a tese do heliocentrismo. Porém, em 1633 abandona o plano de publicá-la, devido à condenação de Galileu pela Inquisição.

 

Em 1649, foi para Estocolmo, Suécia, como professor a convite da rainha Cristina. No dia 11 de fevereiro de 1650, René Descartes falece, acometido por uma pneumonia.

 

Descartes e a Filosofia

Descartes propôs uma filosofia que nunca acreditasse no falso, que fosse totalmente fundamentada na verdade. Sua preocupação era com a clareza. Sugeriu uma nova visão da natureza, que anulava o significado moral e religioso da época. Acreditava que a ciência deveria ser prática e não especulativa.

 

Principais Ideias de Descartes

O Discurso sobre o Método”, obra de 1637 de Descartes, é um tratado filosófico e matemático que lançou as bases do racionalismo como a única fonte de conhecimento.

 

Acreditava na existência de uma verdade absoluta, incontestável. Para atingi-la desenvolveu o método da dúvida, que consistia em questionar todas as ideias e teorias preexistentes. Expõe quatro regras para se chegar ao conhecimento:

  • Nada é verdadeiro até ser reconhecido como tal;

  • Os problemas precisam ser analisados e resolvidos sistematicamente;

  • As considerações devem partir do mais simples para o mais complexo;

  • O processo deve ser revisto do começo ao fim para que nada importante seja omitido.

 

Descartes convenceu-se de que a única verdade possível era sua capacidade de duvidar, reflexo de sua capacidade de pensar. Assim, a verdade absoluta estaria sintetizada na fórmula “eu penso”, a partir da qual concluiu sua própria existência. Sua teoria passou a ser resumida na frase “Penso, logo existo”.

 

Frases de Descartes:

Além de sua frase mais célebre "Penso, logo existo", segue abaixo algumas sentenças do filósofo, as quais traduzem parte de seu pensamento.

  • Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir.

  • Se quiser buscar realmente a verdade, é preciso que pelo menos uma vez em sua vida você duvide, ao máximo que puder, de todas as coisas.

  • Não existem métodos fáceis para resolver problemas difíceis.

  • Não há nada no mundo que esteja melhor distribuído do que a razão: toda a gente está convencida de que a tem de sobra.

  • Para examinar a verdade, é necessário, uma vez na vida, colocar todas as coisas em dúvida o máximo possível.

  • Não é suficiente ter uma boa mente: o principal é usá-la bem.

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Âncora 3

BARUCH DE SPINOZA (1632 — 1677)

 

Foi um dos grandes racionalistas e filósofos do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, ao lado de René Descartes e Gottfried Leibniz. Nasceu em Amsterdã, nos Países Baixos, no seio de uma família judaica portuguesa, e é considerado o fundador da crítica bíblica moderna.

 

Recebeu dos pais o nome de Benedito. Assinou Baruch em vários trabalhos, pela condição de judeu nascido e criado em Amsterdã. Adotou Benedictus, a forma correspondente latina, para assinar a sua Ética, depois de ser banido da comunidade judaica, em 1656, assim atestando seu desvencilho da religião judaica.

 

A sua família fugiu da Inquisição de Portugal. Foi um profundo estudioso da Bíblia, do Talmude e de obras de judeus como Maimônides, Ben Gherson, Ibn Ezra, Hasdai Crescas, Ibn Gabirol, Moisés de Córdoba e outros. Também se dedicou ao estudo de Sócrates, Platão, Aristóteles, Demócrito, Epicuro de Samos, Lucrécio e Giordano Bruno.

 

Ganhou fama pelas suas posições opostas à superstição: a sua frase “Deus sive natura” (Deus ou Natureza), é um conceito filosófico, e não religioso. Notabilizou-se também por ter escrito sua ética na forma de postulado e definições, como se fosse um tratado de geometria.

 

Para sua subsistência, trabalhava com polimento de lentes durante os períodos em que viveu em casas de famílias em Outerdek (próximo a Amsterdã) e em Rijnsburg, tendo recusado várias oportunidades e recompensas durante sua vida, em prestigiosas posições de ensino. Em 1670 mudou-se para a cidade de Haia, e desenvolveu suas principais obras. Convidado a lecionar na Universidade de Heidelberg, recusou porque teria de acatar as normas ideológicas da universidade e seria impossível continuar com a sua obra de forma independente. Uma vez que as reações públicas ao seu Tratado Teológico-Político não lhe eram favoráveis, absteve-se de publicar seus trabalhos. A Ética foi publicada após sua morte, na Opera Postuma editada por seus amigos.

 

Morreu em um domingo, 21 de fevereiro de 1677, aos 44 anos, vitimado pela tuberculose. Morava então com a família Van den Spyck, em Haia. A família havia ido à igreja e o deixara com o amigo doutor Meyer. Ao voltarem, encontraram-no morto. Encontra-se sepultado no pátio da Nieuwe Kerk, em Haia, nos Países Baixos.

 

Conteúdo filosófico

Spinoza defendeu que Deus e Natureza eram dois nomes para a mesma realidade, a saber, a única substância em que consiste o universo e do qual todas as entidades menores constituem modalidades ou modificações. Ele afirmou que Deus sive Natura ("Deus ou Natureza" em latim) era um ser de infinitos atributos, entre os quais a extensão (sob o conceito atual de matéria) e o pensamento eram apenas dois conhecidos por nós.

 

A sua visão da natureza da realidade, então, fez tratar os mundos físicos e mentais como dois mundos diferentes ou submundos paralelos que nem se sobrepõem nem interagem, mas coexistem em uma coisa só, que é a substância. Esta formulação é uma solução muitas vezes considerada um tipo de panteísmo e de monismo, porém não por Spinosa, que era um racionalista e, por extensão, se teria um acompanhamento intelectual do Universo, como define ele em seu conceito de "Amor Intelectual de Deus".


Espinosa também propunha uma espécie de determinismo, segundo o qual absolutamente tudo o que acontece ocorre através da operação da necessidade, e nunca da teleologia (propósito do universo). Para ele, até mesmo o comportamento humano seria totalmente determinado, sendo então, a liberdade, a nossa capacidade de saber que somos determinados e compreender porque agimos como agimos. Deste modo, a liberdade para Espinosa não é a possibilidade de dizer "não" àquilo que nos acontece, mas sim a possibilidade de dizer "sim" e compreender completamente porque as coisas deverão acontecer de determinada maneira.

 

A filosofia de Spinosa tem muito em comum com o estoicismo, mas difere muito dos estoicos num aspecto importante: ele rejeitou fortemente a afirmação de que a razão pode dominar a emoção. Pelo contrário, defendeu que uma emoção pode ser ultrapassada apenas por uma emoção maior. A distinção crucial era, para ele, entre as emoções ativas e passivas, sendo as primeiras aquelas que são compreendidas racionalmente e as outras as que não o são.

 

Substância

Para Spinoza, a substância não possui causa fora de si, ela é causa de si mesma, ou seja, uma causa sui. Ela é singular a ponto de não poder ser concebida por outra coisa que não ela mesma. Por ser causa de si, a substância é totalmente independente, livre de qualquer outra coisa, pois sua existência basta-se em si mesma. Ou seja, a substância, para que o entendimento possa formar seu conceito, não precisa do conceito de outra coisa. A substância é absolutamente infinita, pois se não o fosse, precisaria ser limitada por outra substância da mesma natureza.

 

Pela proposição VI da Parte I da Ética, ele afirma: "Uma substância não pode ser produzida por outra substância", portanto, não existe nada que limite a substância, sendo ela, então, infinita. Da mesma forma, a substância é indivisível, pois, do contrário, ao ser dividida ela, ou conservaria a natureza da substância primeira, ou não. Se conservasse, então uma substância formaria outra, o que é impossível de acordo com a proposição VI; se não conservasse, então a substância primeira perderia sua natureza, logo, deixaria de existir, o que é impossível pela proposição VII, a saber: "à natureza de uma substância, pertence o existir". Assim, a substância é indivisível.

 

Deste modo, sendo da natureza da substância absolutamente infinita existir e não podendo ser dividida, ela é única, ou seja, só há uma única substância absolutamente infinita ou Deus.

 

Apesar de ser denominado Deus, a substância de Spinoza é radicalmente diferente do Deus judaico-cristão, pois não tem vontade ou finalidade já que a substância não pode ser sem existir (se pudesse ser sem existir, haveria uma divisão e a substância seria limitada por outra, o que, para Spinoza, é absurdo, como foi explicado no parágrafo anterior). Consequentemente, o Deus de Spinoza não é alvo de preces e menos ainda exigiria uma nova religião.

 

Natureza Humana

Baruch Spinoza viveu em um tempo onde recebeu diferentes influências, um tempo de transição, que marcava o início da modernidade. O filósofo teve que ser cauteloso na exposição de seu pensamento, porque muitos de seus colegas sofreram perseguição e foram até mortos. Para Spinoza, Deus e a natureza são uma coisa só, não havendo distinção entre eles. Essa concepção exclui ideias transcendentais e entra em choque com os que acreditam no direito divino para os reis, bem como Direitos naturais hereditários. Seu caráter Naturalista exclui a ideia Dualista de que haveria uma maneira natural de como as coisas deveriam ser. Muitos pensadores acreditavam que as coisas deveriam ser da maneira que são pela vontade de Deus: essa é uma diferença importante no pensamento de Spinoza.

 

O filósofo começa a expor seu pensamento acerca da natureza humana no livro Tratado Teológico-político. Nele, o autor explica como acredita que funcionam as economias dos Afetos e Desejos e de que maneira isso afeta como vivemos. No capítulo XVI/3, encontramos um exemplo: "O direito natural e cada homem definem-se, portanto, não pela razão sã, mas pelo desejo e pela potência". “Ninguém, com efeito, está determinado a se comportar conforme as regras e as leis da razão; ao contrário, todos nascem ignorantes de todas as coisas e a maior parte de suas vidas transcorre antes que possam conhecer a verdadeira regra da vida e adquirir o estado de virtude, mesmo que tenham sido bem-educados. E eles não são menos obrigados a viver e a se conservar, nessa espera, pelo simples impulso do apetite, pois a natureza não lhes deu outra coisa, e lhes recusou a potência atual de viver conforme a reta razão; logo, considerando submetido apenas ao império da natureza, tudo o que um indivíduo julgar como lhe sendo útil, seja pela conduta da razão seja pela violência de suas paixões, é-lhe permitido desejar, em virtude desejar, em virtude de um soberano direito de natureza e tomar por qualquer via que seja, pela força, pela artimanha, por preces, enfim, por meio mais fácil que lhe pareça. Consequentemente, também ter por inimigo aquele que quiser impedi-lo de se satisfazer".

 

Mais adiante, Spinoza vai argumentar que o uso da Razão viria a partir de um exercício, mas que ainda estamos longe de chegar lá devido às Paixões. O autor disserta: "Mas falta muito para que todos se deixem facilmente se conduzir apenas pela razão; cada um se deixa levar por seu prazer e, mais amiúde, a avareza, a glória, a inveja, o ódio, etc., ocupam a mente, de tal sorte que a razão não tem qualquer lugar".

 

No ano de sua morte, Spinoza termina um outro livro, que seria uma continuação do anterior, dando sequência a seus pensamentos e sua teoria. No Tratado Político, título do novo livro, Spinoza também aborda, em diferentes momentos, a questão da natureza humana, bem como a força das paixões e os efeitos que elas produzem nos corpos. Logo no primeiro capítulo, o autor explica de que maneira ele tenta entender essas paixões e estudá-las, a fim de aplicá-las na sua teoria: "Quando, por conseguinte, apliquei o ânimo à política, não pretendi demonstrar com razões certas e indubitáveis, ou deduzir da própria condição humana, algo que seja novo ou jamais ouvido, mas só aquilo que está mais de acordo com a prática. E, para investigar aquilo que respeita a esta ciência com a mesma liberdade de ânimo que é costume nas coisas matemáticas, procurei escrupulosamente não rir, não chorar nem detestar as ações humanas, mas entendê-las. Assim não encarei os afetos humanos, como são o amor, o ódio, a ira, a inveja, a glória, a misericórdia e as restantes comoções do ânimo, como vícios da natureza humana, mas como propriedades que lhe pertencem, tanto como o calor, o frio, a tempestade, o trovão e outros fenômenos do mesmo gênero que pertencem à natureza do ar, os quais, embora sejam incômodos, contudo, são necessários e têm causas certas mediante as quais tentamos entender sua natureza".

 

O autor expõe seu pensamento com clareza acerca da sua discordância com o pensamento comum da época. Explicando o porquê de não acreditar que as pessoas agem exclusivamente através da razão: "Depois, na medida em que cada coisa se esforça, tanto quanto esta em si, por conservar o seu ser, não podemos de forma alguma duvidar de que, se estivesse tanto em nosso poder vivermos segundo os preceitos da razão como conduzidos pelo desejo cego, todos se conduziriam pela razão e organizariam sabiamente a vida, o que não acontece minimamente, pois cada um é arrastado pelo seu prazer". Para o filósofo, as pessoas não se submetem ao Estado por uma análise racional, mas por uma economia de seus desejos, sejam eles medo ou esperança. São as paixões que, em acordo com outras Paixões, encontram vontades comuns que permitem que as pessoas se agrupem em "estados" e, assim, se submetam de alguma maneira a algum sistema, seja ele monárquico, aristocrático ou demo-crático. "Longe de ser fruto de uma ruptura com a natureza, o estado forma-se no âmbito desta, mediante a dinâmica afetiva, ou passional, que associa ou põe em confronto os indivíduos". "Por isso também, a essência do político é impossível de se confundir com uma qualquer moldura racional de onde e no interior da qual as normas de conduta fossem deduzidas, de modo a imporem-se como condição necessária e legítima da paz e da estabilidade".

 

Observamos que Spinoza defende uma espécie de sistema econômico de gerenciamento dos afetos, tanto por parte dos súditos, como do soberano. Esse gerenciamento é subjetivo, e acontece individualmente, com efeitos no coletivo. Cabe, aos súditos, sentirem sua potência, a fim de preservar sua vida, e maximizar sua liberdade, bem como o soberano de não impor sistema rígido demais que encurrale seus súditos a ponto de que esses se rebelem. O Estado mais "racional", é aquele que consegue entender as demandas da sua população, e promover uma espécie de bem-estar. A paz imposta pelo medo, como ausência de guerra, é sempre temporária. O bem-estar de todos é o que ajuda a manter o Estado coeso. Esse sistema é precário, e está sempre sujeito a avaliações e adequações para melhor atender a todos, defendendo, assim, até a manutenção do Estado pelo soberano. Spinoza entende o Estado como a potência da multidão, e define, no Tratado Político 2/17, os sistemas políticos que podem constituir esse Estado. O autor esclarece: "Detém–no absolutamente quem, por consenso comum, tem a incumbência da república, ou seja, de estatuir, interpretar e abolir direitos, fortificar as urbes, decidir sobre guerra e paz, etc. E se esta incumbência pertencer a um conselho que é composto pela multidão comum, então o estado chama–se Democracia; mas se for composto só por alguns eleitos, chama–se Aristocracia; e se finalmente, a incumbência da República e por conseguinte, o Estado, estiver nas mãos de um só, então chama–se Monarquia". Com isso, podemos concluir o pensamento de Spinoza e entender como a Natureza age sobre e através das potências de todos e como isso influencia o Estado e o sistema político.

 

Os afetos – o desejo, a alegria e a tristeza

Os corpos se individualizam em razão do “movimento e do repouso”, da “velocidade e lentidão” e não em função de alguma substância particular (escólio 1 da proposição 13 da parte 2 da Ética), e a identidade individual através do tempo e da mudança consiste na manutenção de uma determinada proporção de movimento e repouso das partes do corpo (proposição 13 da parte 2 da Ética). O corpo humano é um complexo de corpos individuais, e é capaz de manter suas proporções de movimento e de repouso ao passar por uma ampla variedade de modificações impostas pelo movimento e repouso de outros corpos. Essas modificações são o que Spinoza chama de "afecções" (em filosofia significa “alteração do modo de reagir a impressões”).

 

Uma afecção que aumenta a capacidade do corpo de manter suas proporções características de movimento e repouso aumenta a “potência de agir” e tem, em paralelo, na mente, uma modificação que aumenta a ‘potência de pensar’. A passagem de uma potência menor para uma maior é o “afeto de alegria” (definição dos afetos, parte 2 da Ética). Uma afecção que diminui a potência do corpo de manter as proporções de movimento e repouso diminui a potência de agir e tem, em paralelo, na mente, uma diminuição da potência de pensar. A passagem de uma potência maior para uma menor é o "afeto de tristeza". Já uma afecção que ultrapassa as proporções de movimento e repouso dos corpos que compõe o corpo humano destrói o corpo humano e a mente (morte).

 

Os indivíduos (mentes e corpos) se esforçam em perseverar em sua existência tanto quanto podem (proposição 6 da parte 3 da Ética). Eles sempre se esforçam para ter alegria, isto é, um aumento de sua potência de agir e de pensar, e eles sempre se opõem ao que lhes causa tristeza, ou seja, aquilo que diminui sua capacidade de manter as proporções de movimento e repouso características de seu corpo. O esforço por manter e aumentar a potência de agir do corpo e de pensar da mente é o que Spinoza chama de "desejo" (conatus).

 

“Não é por julgarmos uma coisa boa que nos esforçamos por ela, que a queremos, que a apetecemos, que a desejamos, mas, ao contrário, é por nos esforçarmos por ela, por querê-la, por apetecê-la, por desejá-la, que a julgamos boa”. – Spinoza, Ética, parte 3, proposição 9 esc.

 

As afecções que são atribuídas à "ação" do corpo humano testemunham o aumento de sua potência de agir e de pensar e, por isso, o afeto de alegria sempre impulsiona a atividade. Em contraste, as afecções que diminuem a potência de agir e de pensar (provocando tristeza) testemunham sempre a passividade do corpo humano, são sempre passivas, são "paixões" (do grego pathos, "sofrer uma ação").

 

Para Spinoza, a ilusão dos homens de que suas ações resultam de uma livre decisão da mente é consequência de eles serem conscientes apenas de suas ações enquanto ignoram as causas pelas quais são determinados, o que faz com que suas ações sejam determinadas pelas paixões. Isso é o que ele chama de "primeiro gênero de conhecimento", "imaginação" ou "ideias inadequadas" (a consciência de nossos afetos, e a inconsciência do que os determina). O "segundo gênero de conhecimento" são as "noções comuns" ou "ideias adequadas", que se caracterizam pela consciência do que nos determina a agir. As ideias adequadas sempre são efeitos da alegria, acarretam alegria e impulsionam a atividade, enquanto a imaginação (ideias inadequadas) se caracteriza pela passividade e pelo acaso de causar ou ser efeito da alegria ou da tristeza.

 

[...] “uma criancinha acredita apetecer, livremente, o leite; um menino furioso, a vingança; e o intimidado, a fuga. Um homem embriagado também acredita que é pela livre decisão de sua mente que fala aquilo sobre o qual, mais tarde, já sóbrio, preferiria ter calado. Igualmente, o homem que diz loucuras, a mulher que fala demais, a criança e muitos outros do mesmo gênero acreditam que assim se expressam por uma livre decisão da mente, quando, na verdade, não são capazes de conter o impulso que os leva a falar. Assim, a própria experiência ensina, não menos claramente que a razão, que os homens se julgam livres apenas porque são conscientes de suas ações, mas desconhecem as causas pelas quais são determinados. Ensina também que as decisões da mente nada mais são do que os próprios apetites: elas variam, portanto, de acordo com a variável disposição do corpo. Assim, cada um regula tudo de acordo com o seu próprio afeto e, além disso, aqueles que são afligidos por afetos opostos não sabem o que querem, enquanto aqueles que não têm nenhum afeto são, pelo menor impulso, arrastados de um lado para outro. Sem dúvida, tudo isso mostra claramente que tanto a decisão da mente, quanto o apetite e a determinação do corpo são, por natureza, coisas simultâneas, ou melhor, são uma só e mesma coisa, que chamamos decisão quando considerada sob o atributo do pensamento e explicada por si mesma, e determinação, quando considerada sob o atributo da extensão e deduzida das leis do movimento e do repouso” [...] – Spinoza, Ética, parte 3, proposição 2 esc.

 

A grande inovação da ética de Spinoza foi que, nela, a razão não se opõe aos afetos, pelo contrário, a própria razão é um afeto, um desejo de encontrar ou criar as oportunidades de alegria na vida e de evitar ou desfazer ao máximo as circunstâncias que causam tristeza, mas o próprio desejo-razão (do mesmo modo que os outros tipos de afetos) não depende da vontade livre, mas de afecções que fogem ao controle do indivíduo porque são modos da substância única infinita, que não tem finalidade nem providência. Em diversas obras, Spinoza diz que é nocivo (diminui nossa potência de agir e de pensar) ridicularizar ou reprovar alguém dominado pelas paixões, porque isso não depende da livre decisão da mente. O único modo do homem, que se guia pela razão, ajudar os outros é, nas palavras de Spinoza: “Não rir nem chorar, mas compreender”. – Spinoza, Tratado Político

 

A ética de Spinoza é a ética da alegria. Para ele, só a alegria é boa, somente a alegria nos leva ao amor (que ele define como a ideia de alegria associada a uma causa exterior) no cotidiano e na convivência com os outros, enquanto a tristeza sempre é má, intrinsecamente relacionada ao ódio (que ele define como a ideia de tristeza associada a uma causa exterior), a tristeza sempre é destrutiva para nós e para os outros.

 

O terceiro gênero de conhecimento - beatitude

Além dos dois gêneros citados anteriormente, Spinoza afirma ainda um terceiro, chamado de beatitude. Esse conhecimento se caracteriza por compreender, nas coisas singulares, o aspecto da eternidade (sub specie aeternitatis). Seria algo como ver as coisas singulares como inseparáveis dos modos da substância infinita e eterna (Deus), compreendendo que as coisas singulares são elas mesmas eternas, existindo fora do tempo. Esse é um dos conceitos de Spinoza mais controversos e discutidos.

 

Suas obras o fizeram reconhecido em vida, tendo recebido cartas de figuras proeminentes como Henry Oldenburg da Royal Society; do interventor alemão Ehrenfried Walther von Tschirnhaus; do cientista holandês Huygens; de Leibnitz; do médico Louis Meyer, de Haia; e do rico mercador De Vries, de Amsterdã. Luís XIV lhe ofereceu uma larga pensão para que Spinoza lhe dedicasse um livro. O filósofo recusou polidamente.

 

O príncipe de Condé, na chefia do exército da França que invadira a Holanda, novamente convidou-o a aceitar uma pensão do rei da França e ser apresentado a vários admiradores. Spinoza, desta vez, aceitou a honraria, mas se viu em dificuldades ao retornar a Haia, por causa dessa suposta "traição". Porém, logo o povo, ao perceber que se tratava de um filósofo, um inofensivo, se acalmou.

 

Frases de Spinoza:

  • Quem vive dirigido pela razão, se esforça, tanto quanto pode, por compensar pelo amor e pela generosidade, o ódio o desprezo que tem outrem por ele.

  • Tenho evitado cuidadosamente rir-me dos atos humanos, ou desprezá-los; o que tenho feito é tratar de compreendê-los.

  • As coisas nos parecem absurdas ou más porque delas só temos um conhecimento parcial e estamos na completa ignorância da ordem e da coerência da natureza como um todo.

  • Os homens enganam-se quando se acreditam livres; essa opinião consiste apenas em que eles estão conscientes das suas ações e ignorantes relativamente às causas pelas quais são determinadas.

  • O homem livre não pensa em nada a não ser na morte; e a sua sabedoria é uma meditação não sobre a morte, mas sobre a vida.

  • A paixão sem a razão é cega, a razão sem a paixão é inativa.

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Âncora 7

MONTESQUIEU (1689-1755)

 

Foi um filósofo social e escritor francês. Foi o autor de "Espírito das Leis". Foi o grande teórico da doutrina que veio a ser mais tarde a separação dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. É considerado o autêntico precursor da Sociologia Francesa. Foi um dos grandes nomes do pensamento iluminista, junto com Voltaire, Locke e Rousseau.

 

Charles-Louis de Sécondat, conhecido como Montesquieu, nasceu no castelo de La Brède, perto de Bordeaux, França, no dia 18 de janeiro de 1689. Filho de nobres estudou no Colégio Juilly, onde fez sólidos estudos humanísticos.

 

Com 16 anos, Montesquieu ingressou no curso de Direito da Universidade de Bordeaux. Nessa época, frequentou os círculos da boêmia literária de Paris.

 

Com a morte de seu pai, Montesquieu herdou o título de Barão de La Brède. Mais tarde, herdou de um tio uma propriedade rural produtora de vinho, que manteve pelo resto da vida, e o título de Barão de Montesquieu.

 

Seguindo uma tradição familiar, em 1714, tornou-se conselheiro do tribunal provençal de Bordeaux, que presidiu entre 1716 e 1726, quando resolveu conhecer de perto as instituições políticas de outros povos, Montesquieu percorreu numerosos países em viagem de estudos e, atraído pelo modelo político britânico, permaneceu em Londres entre 1729 e 1731.

 

Cartas Persas

Montesquieu se tornou célebre com a publicação de “Cartas Persas” (1721), cartas imaginárias de um persa que ao visitado a França teria estranhado os costumes e instituições vigentes.

 

O livro, espirituoso e irreverente, relativiza os valores de uma civilização pela comparação com os da outra, muito diferentes. Montesquieu satiriza sutilmente as tendências cartesianas da filosofia francesa e o absolutismo do Estado e da Igreja. A obra lhe valeu a entrada na Academia Francesa em 1727.

 

A Filosofia de Montesquieu

A filosofia de Montesquieu esta enquadrada no espírito crítico do Iluminismo Francês, com o qual ele compartilha os princípios da tolerância religiosa, a aspiração da liberdade e denuncia as diversas instituições desumanas como a tortura e a escravidão, mas afastou-se do racionalismo abstrato e do método dedutivo de outros filósofos iluministas, para buscar um conhecimento mais concreto, empírico, realista e cético.

 

O Espírito das Leis

Em 1748, Montesquieu publicou sua obra principal “O Espírito das Leis”, obra de grande impacto, editada inúmeras vezes e traduzida para outras línguas. Nela, Montesquieu elabora sua teoria política e o resumo de suas ideias.

 

Teoria Política de Montesquieu

Para Montesquieu não existia uma forma de governo ideal que servisse para qualquer povo em qualquer época. Em “O Espírito das Leis” Montesquieu elaborou uma teoria sociológica do governo e da lei, mostrando que a estrutura de ambos depende das condições em que cada povo vive.

 

Assim, para criar um sistema político estável tinha que ser levado em conta o desenvolvimento econômico-social do país e até determinantes geográficos e climáticos influenciavam decisivamente na forma de governo.

 

Montesquieu considerava que cada uma das três formas de governo era baseada por um princípio: a democracia baseia-se na virtude, a monarquia na honra e o despotismo no medo.

 

Ao rejeitar o despotismo, afirmava que a democracia sé era viável em repúblicas de pequenas dimensões territoriais, decidindo-se em favor da monarquia constitucional.

 

Doutrina dos Três Poderes

Sua contribuição mais conhecida foi a “Doutrina dos três poderes”, baseada em Locke, em que defendia a divisão da autoridade governamental em três setores fundamentais: o executivo, o legislativo e o judiciário, cada um independente e fiscal dos outros dois.

 

Montesquieu faleceu em Paris, França, no dia 10 de fevereiro de 1755.

 

As teorias de Montesquieu exerceram profunda influência no pensamento político moderno. Inspiraram a Constituição dos Estados Unidos, de 1787, que substituiu a monarquia constitucional pelo presidencialismo, e exerceu uma influência decisiva sobre os liberais que levaram à Revolução Francesa de 1789, e a construção posterior de regimes constitucionais em toda a Europa.

 

Obras

  • Cartas Persas (1721)

  • Considerações Sobre a Causa da Grandeza dos Romanos e a sua Decadência (1734)

  • O Espírito das Leis (1748)

  • Obs.: Montesquieu foi um dos 130 colaboradores da Enciclopédia, obra monumental dividida em 17 volumes de responsabilidade dos filósofos Diderot e D’Alembert.

 

Frases de Montesquieu

  • As viagens dão uma grande abertura à mente: saímos do círculo de preconceitos do próprio país e não nos sentimos dispostos a assumir aqueles dos estrangeiros.

  • O estudo foi para mim o remédio soberano contra os desgostos da vida, não havendo nenhum desgosto de que uma hora de leitura não me tenha consolado.

  • A corrução dos governantes quase sempre começa com a corrução dos seus princípios.

  • É uma verdade eterna: qualquer pessoa que tenha o poder, tende a abusar dele. Para que não haja abuso, é preciso organizar as coisas de maneira que o poder seja contido pelo poder.

  • Quanto menos os homens pensam, mais eles falam.

  • Liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem.

  • Se quiséssemos ser apenas felizes, isso não seria difícil. Mas como queremos ficar mais felizes do que os outros, é difícil, porque achamos os outros mais felizes do que realmente são.

  • A injustiça que se faz a um, é uma ameaça que se faz a todos.

  • Só se conhece o que se pratica.

  • As leis inúteis debilitam as necessárias.

  • A amizade é um contrato segundo o qual nos comprometemos a prestar pequenos favores a alguém a fim de ele nos prestar grandes.

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Âncora 4

IMMANUEL KANT (1724 – 1804)

É um dos filósofos mais estudados na modernidade. Seus trabalhos são pilar e ponto de partida para a filosofia alemã moderna, com seguidores como Fichte, Hegel, Schelling e Schopenhauer. Kant tentou resolver as questões entre o racionalismo de Descartes e Leibniz e o empirismo dos filósofos David Hume e John Locke.

 

Nasceu em Königsberg, na Prússia Oriental (atual Kaliningrado, Rússia), no dia 22 de abril de 1724. Foi o quarto de nove filhos do casal Johann Georg Kant, fabricante de arreios para cavalgaduras, e Anna Regina Kant. Viveu uma vida modesta e devotada ao luteranismo. Estudou no "Colégio Fredericianum" antes de ir para a "Universidade de Königsberg". Assim, após passar a adolescência estudando num colégio protestante, vai para a Universidade de Königsberg, em 1740. Ali, será livre-docente conferencista associado somente em 1755, quando doutorou-se em filosofia, estudando também teologia, física e matemática, além de lecionar Ciências Naturais.

 

Kant, um homem metódico e de saúde frágil, foi professor de Física, Antropologia, Geografia, Lógica, Metafísica, etc. Além disso, escreveu alguns ensaios sobre história e política. Mas, o objetivo de Kant foi criar uma filosofia essencialmente crítica, analisando objetivamente a razão, com seus limites e possibilidades efetivas. Toda a sua filosofia crítica, que inclui também uma crítica da moral e da estética, surge da observação dos seres humanos e das correntes que os impedem de ser livres.

 

Em seus últimos anos, devido à senilidade que o afetou seriamente, o trabalho tornou-se muito pesado. A partir de 1798 não pode mais continuar seus cursos universitários, pois havia perdido a memória e a fala. Triste destino para quem havia dedicado sua vida ao exercício do pensamento. Morreu aos 80 anos, em Königsberg, no dia 12 de fevereiro de 1804.

 

Principais Ideias de Kant

Kant revela que o espírito ou razão, modela e coordena as sensações, das quais as impressões dos sentidos externos são apenas matéria prima para o conhecimento. O julgamento estético e teleológico une os julgamentos morais e empíricos, de modo a unificar o sistema.

 

Vale citar que Kant foi um entusiasta do Iluminismo europeu e estadunidense, donde publicou a obra "O que é o Iluminismo?" (1784). Nessa obra, ele sintetiza a possibilidade de o homem seguir sua própria razão, o qual seria, ao mesmo tempo, a saída do homem de sua menoridade. Essa é definida como a incapacidade do homem de fazer uso do seu próprio entendimento. Ou seja, o fato de não ousar pensar, por motivos de covardia e preguiça, principais motivos do ser humano permanecer na menoridade.

 

Kant associa o racionalismo ao iluminismo e, na verdade, segue as linhas defendidas desde o início dessa corrente de pensamento: considerar que a razão é um órgão eficaz para guiar a conduta humana no mundo, mas não uma atividade onipotente e infinita, sem limites nem condições.

 

Obras

Podemos dividir a atividade literária de Kant em três grandes fases:

  • O primeiro, que vai até 1770, onde prevalece seu interesse pelas ciências naturais;

  • O segundo, entre 1760 e 1781, com predomínio do estudo filosófico, quando surge sua orientação em direção ao empirismo e ao criticismo;

  • A terceira, de 1781 em diante, aparecendo sua filosofia transcendental.

 

No primeiro período, destaca-se algumas obras que estudam a Terra, seus movimentos e envelhecimento. Em 1770, assume a Cátedra de Lógica e Metafísica na Universidade de Königsberg. Nesse momento, termina a chamada fase pré-crítica Kantiana, na qual predomina a filosofia dogmática. Sua obra principal e emblemática é a “A História Universal da Natureza e Teoria do Céu”, de 1755, descrevendo a formação do Cosmos a partir de uma nebulosa primitiva, segundo as leis de Newton.

 

No segundo período, Kant supera a “letargia dogmática”, a partir do choque que leva ao ler as obras do filósofo Hume, e se mostra com preponderância ao pensamento filosófico marcados pelos temas que confluíram para o pensamento crítico. Critica o valor da lógica aristotélico-escolástica, comparando-a com um colosso, “que tem a cabeça nas nuvens da antiguidade e cujos pés são de argila”. A finalidade da lógica não deveria ser o de complicar as coisas, mas de aclará-las; não de descobri-las, mas de expô-las claramente. Em sua obra “Observações sobre o Sentimento do Belo e do Sublime”, ele distingue os dois temas, sob o ponto de vista psicológico. O sublime comove; o belo atrai e arrebata.

 

No terceiro período, Kant foi elaborando sua filosofia crítica. Nessa fase, Kant escreve “A Crítica da Razão Pura” (1781), fruto de suas meditações durante 12 anos. Ela abre caminho para a série de suas grandes obras: “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”, “Crítica da Razão Prática” (1788), “Crítica da Faculdade do Juízo” (1790) e “A Religião dentro dos Limites da Simples Razão”.

 

Tendo em vista que presenciou pessoalmente Napoleão Bonaparte conquistar a Prússia, foi contemporâneo e simpatizante da Independência Americana e da Revolução Francesa, pois, segundo ele, estavam ambas no caminho da obtenção do ideal da liberdade política que inclui também a liberdade dos seres humanos como tais e como cidadãos.

 

A "Crítica Kantiana" e "Os Juízos"

Na obra "Crítica da razão pura" (1781), Kant busca formular maneiras para fazermos um bom uso do entendimento. Ao perceber que somos limitados por aquilo que nos é dado conhecer, não podemos conhecer a verdade sobre o mundo “como ele é em si”. Isso porque percebemos e pensamos o mundo de formas determinadas. Assim, é capital estudar como o conhecimento pode ser limitado, pois isso leva às suas possibilidades e suas aplicações reais.

 

Já em "Crítica da razão prática" (1788), Kant formula as bases de sua filosofia moral. O que fundamenta a ação humana e o que nos é dado fazer, constituem assim, um tratado sobre a moral humana. Nesta obra, o autor desvela a moralidade de forma similar ao modo como formula sua abordagem acerca do conhecimento. Ele discute os princípios da ação moral enquanto forma de conquista da felicidade.

 

Por conseguinte, Kant formula o "juízo sintético" para tratar da experimentação, como garantia dos conhecimentos verdadeiros. Segundo ele, não se pode alcançar a verdade apenas pela análise de suas proposições.

 

Já o "juízo analítico", por outro lado, está fundado no princípio de identidade. Nele, o predicado aponta um atributo contido no sujeito e, quando se nega o sujeito, se nega o predicado e vice-versa.

 

O "juízo estético", por sua vez, somente seria possível para aqueles com a faculdade de julgar. Esses seriam os únicos capazes de uma investigação crítica a respeito do conceito de "belo".

 

Curiosidades

  • Kant nada fez de célebre até 50 anos de idade, quando tem início sua segunda fase, na qual produziu freneticamente.

  • Immanuel Kant era metódico, sistemático e pontual. Precisamente às 15h30min, ele saía para passear, sendo esse, um evento para regular os relógios na cidade; conforme ia passeando pelas ruas, todos regulavam seus relógios.

 

Frases de Kant:

  • A missão suprema do homem é saber o que precisa para ser homem.

  • O sábio pode mudar de opinião. O ignorante, nunca.

  • Não somos ricos pelo que temos, e sim pelo que não precisamos ter.

  • Ciência é o conhecimento organizado. Sabedoria é vida organizada.

  • O juízo em geral é a faculdade de pensar o particular como compreendido sob o universal.

  • A felicidade é o estado no mundo de um ser razoável, a quem, em todo o curso da sua existência, tudo acontece segundo a sua aspiração e a sua vontade.

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